Levanta a mão quem aqui pensa em empreender”. A provocação dirigida a universitários é feita há anos por professores dos mais variados cursos de ensino superior do País. Se antes um ou outro aluno levantava a mão, professores, coordenadores de curso e gestores de incubadoras ouvidos pelo Estadão revelam que, atualmente, de 40% a 60% de seus alunos expressam o desejo de abrir o próprio negócio ainda nos bancos das universidades.
Para ampará-los, as instituições oferecem de cursos de extensão a MBAs, de maratonas de tecnologia (os chamados hackathons) a estação de trabalho em uma incubadora da própria universidade, de disciplinas sobre o tema à substituição do TCC pela criação de uma startup como trabalho de conclusão de curso.
O fato é que a ascensão das startups seduz universitários desde o primeiro ano da graduação. Não apenas pelas cifras alcançadas (o volume de aportes em 2020 no País está em US$ 2,2 bilhões) mas pelas características do modelo de negócio. De acordo com os especialistas, o jovem universitário enxerga uma oportunidade para finalmente “trabalhar com o que gosta”, aliando propósito, agilidade na rotina de trabalho, inovação aplicada e liberdade de criação.
Flexibilidade de horários e uma cultura organizacional feita à sua maneira também entram no pacote para aliar empreendedorismo à futura carreira. “O aluno entende que pode desenvolver uma empresa relacionando-a com a sua causa e seu estilo de vida. Isso o deixa encantado”, afirma Wagner Sanchez, diretor acadêmico da FIAP.
O professor de empreendedorismo e inovação do Insper Marcelo Nakagawa observa que muitos jovens buscam por instituições de ensino que oferecem conteúdos sobre empreendedorismo antes mesmo de iniciar os estudos. “O número de jovens interessados em empreender e que busca uma faculdade para tal cresce constantemente nos últimos anos. Em geral, o futuro aluno faz uma pesquisa prévia no site da instituição buscando matérias relacionadas e apoio oferecido por ela, como centros de empreendedorismo”, diz.
“Alguns alunos são incentivados pelos próprios pais, que conhecem as condições atuais de emprego e têm noção do processo de precarização do trabalho em função da terceirização da atividade fim, trabalho intermitente, trabalho por projeto e ainda o avanço da automação e robotização de processos”, completa Nakagawa.
Para entender o ecossistema nacional, o Brasil saltou de 4.151 startups em 2015 para 13.479 atualmente, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Sobre o desejo de empreender, segundo o relatório anual do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), ele ocupa o quarto lugar na lista de desejos do brasileiro, atrás apenas de comprar um carro, viajar pelo Brasil e ter a casa própria.
Fonte: “Estadão”, 28/10/2020
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