A eleição presidencial nos Estados Unidos impacta a economia global, por isso, o mundo todo está acompanhando o processo, na expectativa de saber quem será o candidato vencedor do pleito. Para entender os reflexos desse processo no Brasil, o Instituto Millenium entrevistou o ex-presidente do Banco Central e presidente do Conselho de Administração do Credit Suisse, Ilan Goldfajn e também o professor de Economia do Ibmec-Rio, Marcelo Mello. Ouça os podcasts.
Para o ex-presidente do Banco Central, existem duas grandes preocupações no momento: a contestação de resultado e a maneira como o Senado será constituído.
“O mais importante no curtíssimo prazo é ter um resultado final, porque por algum tempo a gente estava na dúvida, e ainda está, se haverá contestação do resultado. Essa é a primeira dúvida que se tem. Vai afetar bastante o mercado, principalmente, agora que estamos ainda na pandemia”, explicou.
A preocupação com uma contestação ocorre porque Donald Trump declarou sua intenção de contestar o resultado caso perca.
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Já sobre a constituição do Senado, Ilan compara dois possíveis cenários. “É uma questão que tem que avaliar, se você quer ter uma casa, com um partido que domina, concentra tudo e consegue fazer, e aí as coisas saem mais rápido, ou se você precisa ter checks and balances”, comentou Goldfajn.
Se a maioria eleita for do mesmo partido do presidente eleito, o mercado entende que os projetos serão aprovados com mais facilidade.
Questionados sobre a alta do dólar nos últimos dias, ambos os especialistas afirmaram que o resultado das eleições pouco importa nesse momento. Marcelo Mello, afirma que “a dinâmica que vemos hoje com a economia brasileira é totalmente interna”, sobre a desvalorização do real em relação ao dólar.
Já Ilan Goldfajn diz que o mecanismo é justamente o inverso, é após a eleição de um ou de outro candidato que podem ocorrer movimentações no mercado que provocam ou não a alta no dólar.
“As eleições dependem de milhões e milhões de votos. Não acho que a sociedade americana olhe em particular para o dólar. Os países muito pequenos que dependem muito do exterior, os emergentes, cujo a inflação leva em conta o câmbio, esses estão preocupados”, completou.
Acordos econômicos
O ex-presidente do Banco Central acredita que independente do resultado das eleições americanas os acordos econômicos serão mantidos e a tendência é que sejam ainda mais fortalecidos, já que Brasil e Estados Unidos são bons parceiros comerciais há anos.
“A diplomacia brasileira sempre atuou no sentido de neutralidade, então mesmo que haja um melhor entendimento entre os governos brasileiros e americanos atuais, é mantido um bom relacionamento com os dois candidatos”, explicou.
Hilary Clinton ganhou mais não levou
Nas últimas eleições para presidente, apesar de eleita pelo voto popular, a candidata democrata perdeu nos votos do colegiado. “Nos EUA você tem os colégios eleitorais. São 538 colégios eleitorais no país inteiro e para você ter uma vitória, você precisa de 270”, explica o professor de Economia do Ibmec-Rio, Marcelo Mello.
Marcelo acredita que desta vez, porém, Joe Biden, candidato do Partido Democrata, terá vitória sólida tanto no voto popular, quanto no colegiado, tendo como base as pesquisas até aqui realizadas. “Neste momento, o Joe Biden tem mais ou menos uns 203 colégios eleitorais bem sólidos, contra, se eu não me engano, 83 do Donald Trump. Tem uns 140 colégios eleitorais que estão na disputa, podendo pender para um lado, quanto para o outro. Tem alguns estados que já estão pendendo para o lado do Biden, outros para o lado do Trump. Mas do jeito que a coisa está indo, está pendendo para o lado do Joe Biden”, concluiu.
Marcelo compara ainda os principais pontos do plano de governo dos dois candidatos, “O Joe Biden vai focar na classe média americana, que sofreu muito com o Covid-19, que está com a renda estagnada. Vai ter um pacote de benefícios também, por exemplo, focados em mobilidade social. Então, tem um plano de que, para famílias que ganham até 125 mil dólares por ano, você vai ter faculdade gratuita, enfim, tem uma série de benefícios. E o Donald Trump é a continuidade disso que a gente tá vendo: redução de impostos, desregulação, essa política de “America first”, mais confrontacional do ponto de vista externo e mais isolacionista”, finalizou.
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