No último domingo (29), finalmente pudemos conhecer os prefeitos das 57 cidades onde houve segundo turno. O cenário que se apresentou é de uma esquerda enfraquecida e de campanhas com uma enorme capacidade de crescimento entre os dois turnos.
Pela primeira vez desde a redemocratização, o PT não conseguiu se eleger em nenhuma capital. Apesar de ter sido o partido com mais representantes no segundo turno, das 15 cidades em que disputou, perdeu em 11, incluindo as duas capitais em que concorria, Recife (PE) e Vitória (ES). Apenas Contagem (MG), Diadema (SP), Juiz de Fora (MG) e Mauá (SP) elegeram prefeitos petistas na segunda fase das eleições. A queda na representatividade do partido vem sendo observada desde 2016, quando elegeram 374 prefeitos a menos do que em 2012 — foram 630 prefeitos em 2012 e 256 na eleição seguinte. O movimento decrescente continuou, chegando a 186 prefeitos eleitos em 2020.
Na realidade, os partidos de esquerda, de um modo geral, não tiveram um bom resultado nas disputas municipais. Já os partidos da centro-direita avançaram em números e em relevância. Também pela primeira vez, o apoio do governo federal não demonstrou relevância, visto a dificuldade de transferência de votos do Presidente Bolsonaro aos candidatos que apoiou.
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Em 2018, a polarização acirrou os ânimos, colocando candidatos extremistas como principais opções de voto dos eleitores. A principal hipótese que explica esse fenômeno está relacionada com a maneira rasa como esses candidatos extremistas analisam problemas latentes, como se houvesse uma solução simples e fácil para questões muito profundas e complexas.
A mudança no cenário político é um recado da população brasileira: é preciso dialogar. Segundo Ivan Ervolino, Cofundador e Diretor de Estratégia da Sigalei, plataforma de Inteligência Política e Regulatória, isso se deve a uma conscientização dos eleitores sobre a importância de ter representantes que dialoguem mais e não adotem discursos extremistas. Essa conscientização se refletiu na votação. Ouça o podcast.
“Além das próprias dificuldades internas do partido, que a gente já vê há algum tempo, com um desgaste da imagem do PT, tiveram também algumas disputas internas”, explicou.
Outro ponto interessante observado no último pleito, foi o número de viradas entre o primeiro e o segundo turno. Para Ervolino, o que provocou esse quadro foi a forma como as agendas de execução dos candidatos puderam chegar aos eleitores.
E mesmo com toda a força da TV e do rádio, a internet teve um papel muito relevante este ano. “Conseguimos observar durante essas eleições campanhas muito bem estruturadas em redes sociais, não só para passar a agenda de execução dos projetos, mas também da própria interação com esses eleitores”, opinou o especialista.
Para 2022, a tendência é um pleito menos polarizado, no entanto, tudo vai depender dos movimentos feitos pelo atual Presidente Jair Bolsonaro, que cada vez se aproxima mais do centro. “O que eu acho que vamos precisar ver é qual vai ser o jogo e o movimento das peças em nível federal, para ver quem vai conseguir e como vai conseguir essa aproximação. Mas eu acho que para 2022 o papel do centro vai ser bem importante”, opinou Ervolino.
Agronegócio e as eleições 2020
Apesar da crise provocada pela pandemia de Covid19, o agronegócio continuou crescendo, sendo o único setor com PIB positivo no terceiro trimestre.
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O agro promete ser motor de recuperação da economia brasileira e a eleição de prefeitos pró agrobusiness é de suma importância para garantir que o crescimento continue. Com uma das maiores frentes parlamentares na Câmara dos Deputados, em Brasília, o agro demonstrou sua força ao eleger candidatos apoiados pela bancada.
Segundo Pedro Rafael, analista internacional, este também é um sinal de que os eleitores compreenderam o que é mais importante em um candidato. “A população das cidades avaliou antigos governos e viu que o melhor caminho é o centro”, comentou. Ouça o podcast.
Ainda segundo o especialista, a eleição de prefeitos interessados no crescimento do agronegócio tem impacto não só local, mas em nível nacional.
Agora é cobrar que os representantes eleitos em 2020 cumpram os planos para as cidades, mantenham um diálogo aberto com os governos estadual e federal, garantindo que os municípios possam crescer e superar a crise gerada pela pandemia e por anos de administração pública questionável.