SÃO PAULO – A Amazon anunciou nesta quarta-feira (9) a chegada de um programa global de logística ao Brasil: o Fulfillment By Amazon (FBA), ou Logística da Amazon. Na prática, a varejista americana vai centralizar em seus próprios centros de distribuição armazenamento, empacotamento e envio ao consumidor final dos produtos de parceiros de venda no marketplace (sellers, em inglês).
Na prática, a Amazon tira boa parte do processo logístico da mão desses varejistas associados e concentra em sua própria infraestrutura. “Com a Amazon cuidando de toda a parte logística, o parceiro terá mais tempo para focar em sua expertise. Já o consumidor ganha ao ter mais opções de frete grátis e celeridade no envio”, disse Rafael Ferreira, diretor do FBA no Brasil, em entrevista coletiva na qual o InfoMoney estava presente.
Esse programa global de logística tem relação direta com o desenvolvimento do ecossistema da assinatura Prime. O serviço da empresa oferece, por R$ 9,90 por mês, produtos com frete grátis e que são entregues mais rapidamente (em 500 cidades do país, o prazo é de até dois dias úteis para a entrega). Entram na oferta do Prime outros serviços além do e-commerce, como os streamings Prime Video e Amazon Music.
As políticas de frete grátis e entrega rápida valem para produtos que recebem o selo Prime – estão no controle de estoque da Amazon ou são produzidos pela própria gigante de tecnologia. Antes do FBA, os produtos que eram produzidos pelos parceiros de marketplace (ou seja, fora dos domínios da Amazon) seguiam políticas de frete padrões e levavam mais dias para chegar até o cliente. Agora, os parceiros de venda que contratarem o programa poderão receber o selo Prime em seus produtos. Os critérios para seleção não foram revelados.
Ferreira reforçou que apenas alguns produtos de parceiros terão o selo Prime. Mas afirmou que o vendedor ganha muito apenas tendo acesso à expertise da Amazon. “A Amazon vai auxiliar na estratégia dos parceiros. Daremos a sugestão de quais e quantos produtos devem ser enviados por meio do programa, além de ferramentas de precificação e de promoção com foco em aumento na conversão de vendas”, disse o executivo.
Além disso, a Amazon também anunciou uma outra versão do programa FBA. Pelo Fulfillment By Amazon onsite, a Amazon leva seus processos para dentro do parceiro de venda e efetua apenas a entrega final, do depósito do parceiro até o consumidor. “O onsite já está funcionando em um projeto piloto há vários meses. O seller mantém seu produto em seu armazém e usa ferramentas da Amazon para fazer a gestão de estoque”, explicou Ferreira.
De olho no cliente Prime
O diretor não cravou quão mais ágil o serviço pode ficar para o cliente final. “Mas posso garantir que os produtos que hoje são vendidos pelos parceiros chegarão mais rápido ao cliente, porque estarão contando com a infraestrutura da Amazon”, disse.
O maior beneficiado será o cliente Prime, que paga a assinatura mensal. Ele terá acesso a milhares de produtos que vão passar a ter o selo Prime, portanto serão elegíveis ao frete grátis e às entregas rápidas. Já o cliente que não é Prime não tem benefício direto com o FBA funcionando.
Como vai funcionar o FBA?
O FBA começa a funcionar nesta quarta-feira (9) e está disponível para parceiros localizados no estado de São Paulo, que operam sob o regime tributário do Simples Nacional. A Amazon ficará responsável por receber, armazenar, empacotar, e enviar o produto do vendedor parceiro do marketplace e enviar para o cliente final.
No caso da versão FBA onsite, o produto fica no armazém do vendedor parceiro e a varejista vai até lá, coleta o item e então o envia para o cliente final. A opção está disponível também a partir desta quarta-feira a parceiros que se enquadrem em qualquer regime tributário, localizados nos estados do Sul e Sudeste, além de Pernambuco, Bahia e Distrito Federal.
O parceiro poderá escolher se vai querer o serviço de logística, qual versão e também quais produtos vai querer enviar por esse formato. Ferreira afirma que, durante 2020, a Amazon esteve em contato com centenas de sellers para fazer o onboarding no programa. Nas duas versões de programa, o atendimento de pós-venda é realizado pela Amazon durante 24 horas por dia, 7 dias por semana.
O consumidor começa a ter acesso às vantagens para os produtos do marketplace que se enquadrarem nos programas também nesta quarta.
Ferreira não revelou o custo dos programas para os parceiros, mas disse a Amazon está trabalhando “para ser o mais competitiva possível” e justa com os vendedores.
No primeiro ano de serviço, o parceiro vai arcar com o custo programa e o custo adicional de envio do centro de distribuição da Amazon ou armazém do vendedor parceiro até o cliente. Ainda não há mais detalhes sobre alterações de preço do programa no futuro.
“O valor adicional cobrado varia de acordo com o peso da carga. Mas não vamos cobrar o custo de armazenagem, nem o custo de trazer o produto do seller até o CD da Amazon no caso do FBA”, diz o diretor.
Além desses custos, os vendedores seguem pagando a comissão cobrada atualmente por tipo de produto. “Para qualquer venda no marketplace, adotando ou não o programa, a comissão de venda varia em função da categoria do produto. Por exemplo, 11% em celulares, 12% em notebooks, 15% em livros. A comissão é embutida no valor final e segue funcionando normalmente”, explica Ferreira.
Investimentos em logística: a Amazon subiu de nível?
Segundo Ferreira, o grande objetivo do programa é melhorar a experiência do consumidor final com entrega rápida. “Faremos com que os produtos de parceiros cheguem no mesma velocidade que os estoques da Amazon, e assim estaremos agregando volume maior de produtos na capacidade de entrega da empresa.”
Porém, um dos desafios da Amazon pode ser conseguir absorver a demanda de novos produtos que vão chegar dos sellers por meio do programa.
No início de novembro, a empresa lançou três novos Centros de Distribuição (CDs), somando agora oito CDs no Brasil. A maior quantidade de galpões logísticos é fundamental para a empresa acelerar suas entregas no país, já que seu modelo de negócios no Brasil não envolve lojas físicas – e a expansão de CDs foi alinhada com a chegada do FBA no país.
No entanto, a infraestrutura de maneira geral é ainda muito menor do que a das principais concorrentes no país. O Magazine Luiza, por exemplo, conta com mais de 1.100 lojas no país, que podem funcionar como pequenos CDs. Recentemente, anunciou a aquisição da GFL Logística, uma plataforma de logística para o e-commerce com forte atuação no interior de São Paulo e no sul de Minas Gerais, além da compra da plataforma de tecnologia SincLog, utilizada pela GFL. O Mercado Livre, por sua vez, anunciou a compra de uma frota de aviões própria para reduzir os prazos de entrega, além do anúncio de mais cinco CDs pelo país, chegando a 24 no Brasil.
Ferreira se limitou a afirmar que a Amazon está preparada em termos de infraestrutura. “Não nos baseamos na concorrência. Nossas decisões estratégicas são pautadas no consumidor final e mantemos essa diretriz sempre. Estamos prontos para entregar a experiência do FBA de forma completa. A expectativa é que o programa evolua e se desenvolva no país. Nosso trabalho de investimento em infraestrutura é permanente”, explicou.
Mais CDs e a chegada do FBA são sinais de que a varejista americana quer fazer frente à concorrência brasileira – e rápido. O InfoMoney mostrou os indícios de que a Amazon quer abocanhar um parte bem maior do varejo do país do que a que tem hoje.
Em nota, Alex Szapiro, country manager da Amazon no Brasil, disse que o FBA é um serviço bem-sucedido no exterior. Países como EUA, Canadá, Japão, Austrália e França já contam com esse formato disponível. “O lançamento de FBA é mais um passo em nossa expansão no Brasil. Anunciamos recentemente três centros de distribuição com o objetivo de oferecer ao consumidor brasileiro um catálogo variado, com preços atraentes e uma boa experiência de compra. Em resumo, tornar mais fácil a vida do cliente”, escreveu Szapiro.
Alexandre Machado, sócio-diretor da GS&Consult, consultoria que atua desde 1989 com serviços para o varejo, entende que a Amazon pode chegar mais perto das principais concorrentes do país por meio do FBA. “É um passo a mais, e com certeza vai fazer a empresa subir de nível. A Amazon não entra para ser coadjuvante em nenhum mercado, e aqui ainda é. Todo o trabalho que está sendo desenvolvido tem o foco em futuro protagonismo. A Amazon está no caminho para chegar mais perto dos líderes [B2W, Via Varejo, Magazine Luiza e Mercado Livre]. A Amazon é a única com potencial para se equiparar ao quarteto”, diz.
O sócio-diretor ressalta que Mercado Livre e B2W já têm operações similares ao FBA. Segundo Machado, a novidade traz a terras brasileiras o diferencial de entregas rápidas – pelo qual a Amazon é conhecida no exterior. “A Amazon aumenta por aqui seu portfólio Prime e qualifica os processos dos seus sellers, que são pequenos. O FBA vai profissionalizar o marketplace, braço importante de negócio.”
Alex Antonio Ferraresi, especialista em marketing estratégico da Escola de Negócios da PUC-PR, também ressalta a criação de uma relação positiva com os sellers. “A Amazon tem muito conhecimento desse mercado porque nasceu como varejo digital. Ela tem a expertise da operação. Ao implementar esse programa, ela cria uma relação dupla de prestadora de serviço para o parceiro e de expositora de seus serviços. Essa é uma relação de dependência que pode trazer bons frutos, mas é preciso esperar o programa se desenvolver”, pontua.
Fonte: “InfoMoney”, 09/12/2020
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