“O que causou a crise financeira? O que a prolongou? Por que piorou de forma tão dramática mais de um ano após seu início?”, pergunta o professor de Stanford John Taylor, em “A crise financeira e a política econômica: uma análise empírica do que deu errado” (2008).
Mesmo reconhecendo que “raramente existe uma resposta única para tais perguntas em economia”, o especialista é implacável em seu diagnóstico: “Há evidências de que ações do governo e suas intervenções causaram, prolongaram e fizeram piorar a crise financeira.”
Examinando os fatos em busca da origem dos problemas, Taylor reafirma “a explicação clássica de que as crises financeiras são causadas por excessos monetários, inflando bolhas até seu inevitável estouro”. Atribui tais excessos monetários aos desvios do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, documentados “em transparente linguagem: os juros permaneceriam baixos por um período consideravelmente longo e subiriam lentamente, a um ritmo bastante moderado”.
Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia em 2008, também fustiga o ex-presidente do Fed Alan Greenspan, em “O retorno da economia da depressão e a crise de 2008” (2009). Apesar de atribuir a crise à descontrolada expansão de crédito por um sistema financeiro “paralelo”, de instituições financeiras não-regulamentadas com alto grau de alavancagem, a condenação é explícita no capítulo 7, intitulado “As bolhas de Greenspan”: “Em apenas três anos, o nome de Greenspan foi à lama. A ascensão e queda de sua reputação é a história de autoridades que acreditavam ter tudo sob controle até descobrirem que nada controlavam. Alertou para a exuberância irracional nas bolsas e nada fez a respeito. Estimulou, com juros muito baixos, a bolha imobiliária. E ignorou a mudança estrutural do sistema financeiro, que expandiu o crédito por meio de novas instituições atuando à sombra da desregulamentação.”
Como a economia mundial acelerou por cinco anos ininterruptos em marcha sincronizada ao som dos excessos do Fed, é natural que se espere agora uma forte desaceleração do ritmo de crescimento global. Se 2008 foi o ano em que ruíram os mercados financeiros, 2009 é esperado como o ano do desabamento da produção e do emprego. A desaceleração econômica global é inevitável, mas, com o tempo, observaremos que os efeitos sobre a produção e o emprego serão assimétricos. Por isso tenho insistido em caracterizar esta crise como “made in USA”, onde agora se teme que ocorram seus mais devastadores efeitos sobre a atividade econômica.
Confrontado por uma avalanche de evidências desfavoráveis e perguntado sobre os erros que poderia ter cometido à frente do Fed, Greenspan não mostrou qualquer senso de autocrítica: atribuiu toda a culpa da crise aos mercados — que estimulou artificialmente e manteve desregulamentados em suas manipulações macroeconômicas. Trágico crepúsculo.
O Globo – 05/01/09
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