BRASÍLIA – O Brasil criou 1.536.717 vagas de emprego formal no primeiro semestre de 2021. O mercado de trabalho formal vem registrando forte recuperação desde julho de 2020 – a exceção foi dezembro, que teve saldo negativo – e acompanha outros indicadores que apontam a recuperação da economia brasileira após a crise da pandemia da Covid-19.
Os números são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e foram divulgados nesta quarta-feira pelo Ministério da Economia. Esse desempenho de 2021 é fruto de 9.588.085 admissões e de 8.051.368 desligamentos.
Apenas em junho, o saldo de empregos foi de 309.114 postos, resultado de 1.601.001 admissões e de 1.291.887 desligamentos.
Além da melhoria dos indicadores econômicos em geral, a reedição do programa de manutenção do emprego e renda (BEm), que permite a suspensão de contratos de trabalho e redução de jornada e salários, com um período subsequente de estabilidade no emprego, influenciou o resultado.
Em 2021, o BEm voltou a valer no final do mês de abril. Dados do Ministério da Economia mostram que já foram firmados 3,068 milhões de acordos até o momento. Além disso, 3,5 milhões de trabalhadores tinham garantia provisória no emprego no mês de junho, em virtude de acordos já firmados ou novos vínculos com o BEm.
— A economia brasileira continua a criação de novos empregos em ritmo acelerado – celebrou o ministro da Economia, Paulo Guedes, destacando que o país retomou o patamar de estoque de 40 milhões de empregos formais.
E acrescentou:
— Comércio e serviços, que foram as grandes vítimas, os setores mais impactados pela pandemia, são agora os que mais geram empregos com a retomada da economia. O Brasil continua no rumo certo. Vacinação em massa para garantir o retorno seguro ao trabalho, os setores que foram mais atingidos estão liderando a retomada e nós seguimos com as novas políticas (para emprego).
Setores
No mês de junho, o Caged registrou saldo positivo nos cinco setores monitorados. Mais uma vez, o desempenho positivo foi puxado pelo setor de serviços, que teve saldo de 125.713 empregos criados em junho.
Na sequência veio o comércio, com 77.877 vagas. Os dois setores foram fortemente impactados pela pandemia da Covid-19, e estão registrando números bastantes positivos neste 2021.
O Caged ainda aponta o bom desempenho da indústria (50.145 postos), agricultura (38.005 vagas) e construção (22.460 empregos).
Todos os estados registraram saldo positivo neste mês. O maior saldo foi de São Paulo, com 105.547 postos. Na sequência vieram Minas Gerais (32.818 vagas) e Rio de Janeiro (16.002 postos).
Recuperação do mercado
O resultado do Caged de junho superou as exectativas do mercado, conforme apontamento da Genial Investimentos em relatório divulgado nesta quinta-feira. Enquanto a mediana das projeções apontava para um saldo positivo de 267,7 mil, o resultado foi mais robusto, com 309,1 mil empregos criados. O documento ainda aponta para o resultado positivo nos últimos 12 meses, em que foi registrada a criação de 2,9 milhões de vagas.
Analistas ouvidos pelo GLOBO apontam que a recuperação do mercado de trabalho formal coincide com o momento de reabertura da economia, intensificado a partir de maio, e redução gradativa do número de novos casos de Covid-19.
Para Patricia Krause, economista da Coface para América Latina, ainda que o resultado acumulado do Caged possa estar superestimado, por causa de avisos de desligamentos que não foram notificados, a tendência é positiva e confirmada pelo bom desempenho de todos os setores. Apesar de mundo afora ainda haver alguma preocupação com as variantes da Covid, a expectativa é de que as vacinas sejam eficazes para essas novas cepas e que permitam uma ‘normalização’ do trabalho.
O estoque de empregos formais, que voltou a superar o patamar de 40 milhões de postos com carteira assinada e foi comemorado pelo governo, foi avaliado como “importante”, mas ainda longe do ideal, principalmente pela lacuna entre o mercado formal e informal.
— As desigualdades aumentaram com a crise, e os empregos formais são mais resilientes. Agora, o mercado informal deve ganhar um pouco mais de tração, mas vai ser um melhora bem gradual – aponta.
Ainda que seja gradual, a a avaliação de Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, é de que as tendências diferentes que vêm sendo apontadas pelo Caged e Pnad devem convergir com a recuperação esperada para o fim do ano, principalmente no mercado informal:
— Alguma recuperação a gente vai ver, porque ainda tem setores que vão reabrir e empregam muita gente, como os setores cultural, de entretenimento e alojamento.
Nova pasta
O Ministério do Trabalho e Previdência foi recriado na quarta-feira. A pasta será comandada por Onyx Lorenzoni e foi recriada como parte da reforma ministerial promovida pelo presidente Jair Bolsonaro. O então secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, foi nomeado nesta quinta-feira para o cargo de secretário-executivo do novo ministério.
A nova pasta ficará responsável pelas áreas de previdência social (INSS), previdência complementar (fundos de pensão), política e diretrizes para a geração de emprego e renda e de apoio ao trabalhador, política para a modernização das relações de trabalho, fiscalização do trabalho, política salarial, formação e desenvolvimento profissional, segurança e saúde no trabalho, regulação profissional e registro sindical.
Caged X Pnad
O resultado do Caged segue contrastando com o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) do IBGE.
A Pnad considera vagas formais e informais e apresenta dados trimestrais. Já as informações do Caged refletem números mensais apenas de empregos formais.
Enquanto a pesquisa do IBGE investiga todos os tipos de ocupação, nos mercados formal e informal, além de empresários e funcionários públicos, o Caged só considera aqueles que trabalham com carteira de trabalho assinada.
Fonte: O Globo “30/07/2021”
Foto: Arquivo