“Eu sou mulher, mãe de uma menina linda e empreendedora picada pelo bichinho do impacto social”. É assim que Iseli Reis, fundadora da startup Fleximedical, se apresenta. O negócio sob seu comando é responsável por construir “hospitais sobre rodas”, com soluções para atendimento hospitalar em ônibus, carretas, vans e contêineres. Recentemente, lançou uma cabine móvel para telemedicina. Em 2020, a startup cresceu 130%. Neste ano, a projeção é de um crescimento de 52%.
A história de Reis não começou no mercado de saúde. Apaixonada por arquitetura, se deparou durante o curso na faculdade com o mercado de arquitetura hospitalar. “Algo diferenciado e desafiador”, conta a PEGN. No mesmo momento, conheceu o universo dos negócios sociais. “E aí fui estudar empreendedorismo social e negócios de impacto”, diz.
Em 2007, juntou-se ao médico e criador das Carretas da Saúde Roberto Kikawa para fundar a Fleximedical. Juntos, tinham o sonho de aumentar o acesso à saúde de qualidade para os brasileiros. Reis conta que esse foi um período desafiador. “Mergulhei em um mundo totalmente masculinizado”, diz a empreendedora.
“Me senti desafiada a estudar o que era um amortecedor e como era preciso trabalhar para construir um hospital em cima de um caminhão. Comecei a ser respeitada pelo meu conhecimento e fui trilhando minha jornada”, conta Reis. Foram muitos anos até o modelo ganhar tração. Em 2018, após perder o sócio, vítima de assassinato, a empreendedora teve de assumir sozinha o comando da empresa. “Saí do operacional e comecei a trabalhar mais estrategicamente.”
Ao longo de 2019, Reis tirou o ano para estudar gestão e se reconstruir. Com os aprendizados e novas conexões, viu sua startup ser selecionada para programas de aceleração na Braskem e na Quintessa. Os dois programas foram providenciais para ajudar o negócio a entrar na pandemia. “Na crise do coronavírus, muitas pessoas passaram por um problema que já existia há muito tempo: a falta de leitos e de acesso à saúde. E tínhamos a solução ideal para aquela dor.”
Nesse momento, a startup acelerou a produção das carretas, vans e ônibus para oferecer o maior número possível de soluções que pudessem ajudar no diagnóstico da covid-19 em brasileiros. A ideia da empresa foi suprir a falta de leitos de internação e salas de exames para pacientes do coronavírus. Ao todo, foram mais de 76 carretas da saúde rodando o Brasil. Mas os veículos também podem servir como centros cirúrgicos, áreas de diagnóstico e espaço para exames mais complexos, como endoscopia e tomografia. A empresa opera no modelo B2B, realizando projetos em parcerias com companhias de saúde, e também em conjunto com entidades do poder público.
Neste mês, a empresa lançou as cabines móveis de telemedicina. Por enquanto, são apenas três, mas o número deve aumentar nos próximos meses. Elas são equipadas com instrumentos como termômetro e medidor de pressão, para melhorar a experiência. “Queremos ir além da teleconsulta”, diz Reis.
Agora, a Fleximedical se prepara para uma rodada de investimentos, que deve ser aberta no ano que vem. Com o dinheiro, a empresária deseja levar as soluções da startup para mais regiões do Brasil, assim como para outros países da América Latina, como Paraguai, Bolívia e Peru. “Estamos nos estruturando para crescer muito”, diz.
Fonte: Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios (11/10/2021)
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