* Por Luiz Carlos Trabuco Cappi
Um conjunto de indicadores que preocupam e pedem atenção imediata está se formando na economia brasileira. Na Bolsa, em meio à oscilação dos índices, o ano que prometia ser recorde em IPOs teve um freio com os anúncios em série de cancelamentos. Em outubro, o risco-país atingiu o nível mais alto em seis meses. O índice de inflação fixou-se no patamar de dois dígitos. A cada semana, as previsões de crescimento do PIB para este e o próximo ano encolhem, com risco até mesmo dos fenômenos de recessão e estagflação em 2022.
Por que os ventos mudaram com tanta intensidade? Há várias explicações por parte dos analistas, todas reais. Escolho como razão principal o fato de que o sonho das reformas estruturantes da economia ficou mais distante. Essa percepção esfriou o ânimo dos investidores e, em consequência, as tendências que eram até pouco tempo atrás bastante positivas se alteraram.
Fatores como a antecipação do calendário eleitoral e a falta de paciência dos articuladores no encaminhamento das reformas agem contra os ajustes. Para que essas mudanças, tão necessárias ao País, sejam realizadas, é preciso diálogo, consultas prévias, mais negociação, mais tempo.
A pressa e a falta de substância das propostas hoje discutidas explicam a sensação de que nada mais será votado.
Não é tarde para que a agenda mínima de reformas seja retomada. A condição essencial para retomar a marcha iniciada com a reforma da Previdência está em conceder mais e ouvir mais – e atropelar de menos.
Ajustes nos projetos de reforma tributária e administrativa e na chamada minirreforma trabalhista têm o potencial de destravar seus encaminhamentos, basta disposição e foco.
A situação econômica desafiadora é o argumento central para que os protagonistas atendam aos apelos por nova tentativa de caminhar com as mudanças estruturais. O “quanto pior, melhor” não deve prevalecer.
Diante das incertezas que se verificam em vários setores da economia, a retomada efetiva da tramitação das reformas, neste momento, é a sinalização necessária para reverter expectativas.
É preciso enfrentar o desafio de momentos como os atuais. Todas as partes envolvidas, governo, líderes políticos da situação e da oposição, assim como interlocutores, precisam aceitar que uma proposta, para ser aprovada, deve contemplar outras opiniões. O respeito a posições contrárias é essencial por ser o cerne da própria democracia.
É preciso resgatar o sonho das reformas.
Fonte: “Estadão”, 08/11/2021
Foto: Gabriela Bilo/Estadão