Um dia após ser deflagrada, a mobilização por reajustes salariais de servidores do Banco Central (BC) recebeu a adesão de 1,2 mil dos 3,5 mil funcionários da autarquia, informou o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) nesta terça-feira, 4. Segundo o presidente da entidade, Fábio Faiad, os servidores que integraram a ação não possuem cargos comissionados. Uma nova lista com o número de funcionários com posições de chefia que pretendem renunciar ao posto em forma de protesto vai ser divulgada nesta quinta-feira, 6. O movimento pede que os substitutos destes servidores também não aceitem a nomeação para a posição. Estes cargos são responsáveis por uma série de aprovações e publicações oficiais da autoridade monetária. A estratégia de entregar cargos também está sendo usada por outras categorias, como a Receita Federal, como forma de pressionar o governo por reajustes salariais.
Segundo o sindicato que representa os servidores do BC, os salários não são reajustados há três anos. O movimento pede aumento de 26,3%, o equivalente ao acumulado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro de 2019 até o fim de 2021, mais a previsão de 5,02% para a inflação em 2022, segundo a mediana do Boletim Focus. Faiad afirma que a categoria está em contato com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, desde dezembro, mas que não houve retorno. Procurada pela reportagem da Jovem Pan, a autarquia afirmou que não vai comentar. Os servidores também iniciaram uma rodada de reuniões virtuais para debater os próximos passos da mobilização. Segundo Faiad, novas tentativas de diálogo com a diretoria do BC serão feitas nos próximos dias. Caso não haja avanço nas negociações, o sindicato afirma que deve promover uma paralisação geral sem tempo determinado ainda no final de janeiro ou em fevereiro.
O Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que reúne 37 entidades associativas e sindicais e representa mais de 200 mil servidores públicos, aprovou no fim de dezembro uma série de mobilizações em janeiro e em fevereiro para pressionar o governo por reajustes salariais. A primeira será no próximo dia 18. O movimento foi deflagrado após a liberação de R$ 1,7 bilhão no orçamento para aumento salarial de servidores da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Departamento Penitenciário Nacional (Depen). A pressão de diversas categorias da administração federal por reajustes salariais se tornou o novo ponto de tensão entre a ala política e econômica do Planalto. O Ministério da Economia fez uma série de alertas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o efeito de “estouro da boiada” que a aprovação do reajuste aos servidores federais da segurança pública teria sobre outras categorias. A pressão pela expansão fiscal em meio ao processo eleitoral já era aguardada pela equipe econômica, que vê agora como um momento de se manter firme para evitar um rombo maior.
Fonte: “Jovem Pan”, 04/01/2021
Foto: Fátima Meira/Estadão Conteúdo