Lula criticou as relações de Bolsonaro com o Congresso classificando-o como “subserviente aos interesses dos parlamentares”. “Criaram o orçamento secreto que é tão secreto que não podemos nem saber o nome de quem recebe uma emenda”, complementou o ex-presidente.
De fato, as relações de Bolsonaro com o Legislativo têm sido um desastre. Uma combinação predatória de falta de transparência, baixo sucesso legislativo e alto custo de governabilidade. Inicialmente ignorou e desenvolveu uma relação adversarial com o Legislativo. Mas, diante de vertiginosa perda de popularidade e de crescentes riscos de ver seu mandato abreviado, se aproximou do Centrão e montou uma coalizão minoritária, mas que lhe garante sobrevivência.
Se observarmos as escolhas de Lula e dos outros governos do PT na montagem e na gerência das suas coalizões, vamos perceber desempenhos igualmente desastrosos. Lula montou coalizões com um número muito grande de partidos e heterogêneos entre si, o que dificultou a coordenação e aumentou os custos de governabilidade.
Ao tomar posse em 2003, Lula expandiu o número de ministérios de 23 postos para 35. Diferentemente de FHC, cujo partido (PSDB) ocupava apenas 26% dos cargos ministeriais, as novas posições criadas por Lula foram ocupadas por integrantes do PT que, mesmo com uma bancada de apenas 18% das cadeiras (91 deputados), ocupou 60% dos ministérios (21 postos). Por outro lado, o PMDB, com 15% das cadeiras (78 deputados), ocupou apenas 6%; ou seja, 2 ministérios.
O governo Lula preferiu alocar os espaços do seu gabinete para várias tendências internas do PT em vez de parceiros de coalizão. Naturalmente que tais parceiros se sentiram excluídos do jogo. Para tentar compensar a progressiva frustração e animosidade decorrente da desproporcionalidade da coalizão, o governo Lula recompensou os aliados por meio de pagamentos ilegais, escândalo que ficou conhecido como mensalão.
O STF, muito antes da atuação do “vilão” Sérgio Moro, condenou 25 dos integrantes do que o PGR da época chamou de uma “sofisticada organização criminosa”, incluindo lideranças do PT como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu; o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha; o ex-presidente do PT José Genoino; e seu tesoureiro, Delúbio Soares. Curiosamente, Lula foi implicado apenas indiretamente no escândalo, sendo acusado de omissão.
A narrativa de que Lula se relacionou bem com o Legislativo e que soube montar e gerenciar suas coalizões é simplesmente falsa. É o sujo falando do mal lavado.
Fonte: “Estadão”, 07/02/2022
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