Os resultados da Petrobras do quarto trimestre de 2021 foram seguidos da invasão russa à Ucrânia, que fizeram os preços do petróleo dispararem. O contrato futuro do brent com vencimento em abril chegou a US$ 105,79 o barril durante esta quinta-feira (24) e, no começo da tarde, operavam por volta dos US$ 103 o barril.
Se, por um lado, a alta de preços pode ter impacto a princípio positivo para os números da estatal, por outro pressiona ainda mais a política de preços.
Nesse cenário, em teleconferência após os resultados na manhã desta quinta-feira (24), Claudio Mastella, diretor de Comercialização e Logística da companhia, destacou que vê alta do petróleo com “extrema incerteza”, em um cenário já altista para o mercado de petróleo, impulsionado também pela forte demanda global e oferta insuficiente.
“Os últimos eventos de ontem e hoje, principalmente, geraram um pico de volatilidade. Estamos no momento de extrema incerteza. Continuar observando. Não tenho resposta fácil e simples para dar nesse momento”, apontou Mastella.
O executivo ainda destacou que a empresa continuará observando o mercado e em paralelo a evolução do câmbio nas últimas semanas, tendo (o câmbio em relação ao real) um comportamento em contraposição à evolução (de alta) de cotação de petróleo e derivados.
Executivos da empresa disseram a analistas que, mesmo com os preços altos do petróleo, não existe possibilidade do caixa extra gerada por conta do incremento do barril, ser direcionada para capex que possam ser antecipados. De acordo com a Petrobras, pela dinâmica da indústria e prazos de investimentos, isso não é possível.
Pelo plano da Petrobras, o comprometimento do capex já é muito elevado em seu começo (do plano), não havendo espaço para antecipação de mais investimentos. A construção de FPSOs (unidades flutuantes de armazenamento e transferência instaladas no pré-sal, onde está 70% da produção da empresa) levam quatro anos e isso também impede vincular investimentos em aumento de produção por conta da alta do petróleo.
Diversos analistas de mercado destacaram que os números da Petrobras do quarto trimestre foram abaixo do esperado, com destaque negativo para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado, mas que o fluxo de caixa e os bons dividendos foram positivos.
O Morgan Stanley, por sua vez, destacou maior ceticismo e manteve recomendação neutra para as ações após o balanço, destacando incertezas sobre a política de preços da companhia, baseada na paridade internacional, principalmente em um ano eleitoral.
A avaliação foi reforçada ao comentar especificamente a disparada do petróleo para acima de US$ 100 o barril, destacando que a política de preços de combustíveis da Petrobras continua sendo uma questão fundamental na política brasileira.
“Naturalmente, os produtores de petróleo se beneficiam do ambiente de preços elevados das commodities, mas a equação não é tão simples para a Petrobras, considerando a sensibilidade da questão do preço do combustível diante de um ciclo eleitoral polarizador no Brasil”, destacaram.
Os analistas citaram que tanto o presidente Bolsonaro quanto o ex-presidente Lula comentaram recentemente sobre os preços dos combustíveis, com o primeiro dizendo que não esperava que os preços dos combustíveis mudassem, e o segundo dizendo que os preços dos combustíveis não estariam mais vinculados a referências internacionais se ele for eleito mais uma vez.
Mais destaques da tele
Entre outros destaques da teleconferência com analistas, na abertura do evento, Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras, ressaltou a antecipação de 15 meses o atingimento da meta da dívida bruta da empresa: “Resolvemos assim um problema que perseguia a Petrobras durante vários anos e que havia sido gerado por decisões empresarias equivocadas”. A dívida bruta em 2021 fechou em US$ 58,7 bilhões.
Seguindo o processo de desinvestimentos da Petrobras, Luna disse ainda que, até fevereiro desse ano a empresa já vendeu 21 ativos. “E avançamos tendo chegado à assinatura de mais 14”, disse a analistas nesta quinta (24). O executivo ressaltou a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, e Refinaria Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas. Ele destacou ainda “compromissos de assinatura com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para abertura dos mercados de refino e gás natural”.
Já Claudio Mastella, diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, disse que estão avaliando mudanças na forma de venda de grandes ativos.
Segundo o executivo, estão sendo inclusos nos novos contratos de venda de refinarias da empresa cláusulas adaptáveis à necessidade do interessado, para avançar nas negociações. “O novo refinador está fazendo suas escolhas”, diz. “É natural a diferenciação, nível de flexibilidade, adaptação. Isso vai evoluir de acordo com a condição de competição do mercado”.
Fonte: “InfoMoney”, 24/02/2022
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