*Por Victor Maia Mignone/ Líderes do Amanhã
Para respondermos a essa pergunta, primeiramente, precisamos retornar no tempo e entender alguns assuntos relevantes envolvendo a rede social do passarinho azul e algumas figuras públicas.
Tudo remonta o cenário das eleições presidenciais americanas no ano de 2016 e o que se seguiu posteriormente com o envolvimento de Donald Trump no Twitter e o ativismo que culminou em banimento dessa rede social após o término de seu mandato no ano de 2021.
Por si só, esta já seria uma séria ameaça à liberdade de expressão, no entanto, por se tratar de uma empresa, com autonomia própria para dizer o que tolera e o que não tolera; a diretoria do Twitter resolveu exercitar a sua liberdade para escolher quem ou não pode falar em sua plataforma.
O desenvolvimento dessa história nós já sabemos. Muitos sentiram-se desprestigiados e desrespeitados, pois como a empresa poderia banir alguém por exercitar o seu direito de opinar publicamente?
Sob a acusação de espalhar desinformação e incitar a violência, a conta de Donald Trump foi encerrada enquanto outros perfis de ideologia contrária permanecem ativos e sem moderação até hoje. Seria isso realmente liberdade de expressão?
Não podemos afirmar que esse fato foi a principal motivação para Elon Musk comprar o Twitter, mas podemos dizer que, para o empresário, a circunstância é seguramente muito relevante.
No início de abril, Musk revelou que havia adquirido uma participação no Twitter, a maior participação individual. Na ocasião, ele adquiriu aproximadamente 9,7% das ações até então negociadas na bolsa. Sua intenção? De acordo com a explicação do próprio, era uma iniciativa para frear as constantes ameaças à liberdade de expressão que envolvia a empresa de mídia social.
De acordo com a história contada pela empresa, a ideia inicial dos fundadores era que o Twitter fosse uma espécie de “SMS da internet” com a limitação de caracteres de uma mensagem de celular. A ideia gira em torno de que o usuário da rede social estaria “piando” pela internet. Desde então a rede ganhou extensa notabilidade e popularidade por todo mundo, especialmente por ser uma excelente maneira de se acompanhar atualizações em tempo real de notícias.
Apenas para recordar, no início da década de 2010, a ferramenta foi uma das principais envolvidas no que ficou conhecido como movimento transmidiático, quando diversos programas de televisão, por exemplo, passaram a utilizar o Twitter para promover a participação ao vivo de sua audiência, como acontecia no CQC, extinto programa da Rede Bandeirantes em que os apresentadores realizavam matérias polêmicas e buscavam comentários da audiência em tempo real para fazer piadas e comentários.
Mas o grande momento de importância do Twitter veio durante os anos que envolveram o movimento conhecido como “Primavera Árabe”, pois, através dos sistemas de hashtags e trending topics criados pela rede, as ideias divulgadas pelos participantes do movimento obtiveram tração por todo o mundo. Com isso a rede social ganhou espaço como uma ferramenta fundamental para o exercício da liberdade de expressão, o que contribuiu para a queda de regimes ditatoriais tanto na África como no Oriente Médio.
Neste ponto é importante citar sobre a tecnologia e funcionamento do Twitter enquanto rede social. Apesar de se comportar como uma rede social comum, a estrutura de microblog criada pelo Twitter trabalha com um algoritmo baseado em engajamento. Como assim? Simples, quanto mais curtidas, retweets (o equivalente ao compartilhar da plataforma) e comentários o seu tweet tiver, mais o tweet será exibido nas linhas do tempo na plataforma.
Nesse contexto, alguns das principais recursos criados pelos fundadores da plataforma foram, sem dúvidas, os já mencionados hashtags e os trending topics. Para os que não são tão familizarizados, os trending topics nada mais são do que um ranking dos principais assuntos mais comentados no momento dentro do Twitter, que são classificados pela quantidade de menções que uma determinada hashtag recebe. Foi assim por exemplo que assuntos envolvendo a “Primavera Árabe”, eleições e outros diversos temas ganharam repercussão pelo mundo.
Eis então que temos uma grande controvérsia envolvendo a rede. Em 2016, houve denúncias de inúmeros perfis fakes engajando com os tweets de Donald Trump para que suas mensagens ganhassem tração na rede. Importante notar que, muitas das sanções atuais – como verificação de fatos realizados, suspensão sumária de contas ou até mesmo exclusão de conteúdo – aos usuários surgiram nessa época, pois tal atividade tornou-se parte de um “playbook” de especialistas em crescimento nas redes sociais.
De fato, aos poucos a ferramenta foi encontrando o seu caminho de crescimento e, em 2013, a empresa abriu o seu capital na bolsa de valores de Nova York. Naturalmente, e seguindo o percurso de praticamente toda empresa de capital aberto que possui demonstrativos financeiros instáveis, o Twitter precisou ceder a pressões de curto prazo para gerar resultados e evitar a insolvência.
Essas estratégias envolveram aquisições de plataformas variadas, como a Vine (de micro-vídeos), a Periscope (de live streaming) e a Revue (de newsletter). Foram inúmeras tentativas que muitas vezes se mostraram infrutíferas para tentar bater de frente com o crescimento dos gigantes Facebook e Instagram.
No entanto, o crescimento dos demais não significou a queda da rede do passarinho. Aos poucos, ela foi se acomodando em sua fatia de mercado e tornando-se uma rede social de nicho, dominada por políticos, jornalistas, financistas e empreendedores da área de tecnologia.
Empreendedores de tecnologia, é aí que se encaixa a figura de Elon Musk. O bilionário CEO da Tesla e da SpaceX é sem dúvida um dos perfis mais ativos da plataforma de micro-blogs. Entre piadas, memes e tuítes de cunho um pouco mais sério, através do perfil de Elon é possível ficar muito bem informado do que ocorre em seus negócios.
Mas quais seriam os motivos de Elon em adquirir a rede? De fato, não há um direcionamento senão o de garantir mais liberdade de expressão para os participantes da plataforma. A partir disso, podemos especular alguns cenários, como, por exemplo, o retorno de Donald Trump à rede. No entanto, nesta quinta-feira, 28, Elon Musk tweetou que o seu conceito de liberdade de expressão é aquele previsto em lei e que se o povo quiser censura na plataforma, deverá buscar mudanças na lei.
Todavia, desde que foi confirmada a venda para Musk, em 25 de abril de 2022, o que mais se ouve e vê é uma comoção exagerada por parte de usuários e funcionários do Twitter com relação ao abandono da plataforma, uma vez que perfis de mídia e influenciadores principalmente de esquerda incitam a desativação permanente de seus perfis na rede social.
Por outro lado, também há também argumentos de apoiadores do Presidente da República que, por exemplo, afirmam que a venda da plataforma já teria culminado em mudanças estruturais na rede. Ocorre que esse fato é impossível de ter ocorrido, uma vez que a proposta de Musk foi apenas aceita pelo Twitter e ainda precisa passar toda a due diligence estabelecida pela SEC (Securities and Exchange Commission, equivalente à nossa CVM), bem como ter todo o trâmite de transição entre diretoria, conselho e time de operações.
A verdade é que há uma grande nebulosidade sobre todo o futuro da plataforma, mas uma certeza é que há uma reestruturação grande a vista, e tudo isso levará tempo. Qualquer alteração em nível técnico, como mudanças em algoritmo, remoção de bloqueios ou barreiras e até mesmo em relação à tecnologia da plataforma são improváveis de ocorrer até que todo o processo de aquisição do Twitter e o fechamento de capital ocorram. Afinal, até lá, a empresa permanecerá pública e deve prestar contas aos acionistas.
Sabe-se que foi aberto um programa de demissão voluntária, a fim de facilitar o processo de transição. Algo bastante comum de ocorrer em empresas após enfrentarem um processo de M&A. Além disso, qualquer alteração em engajamentos na rede e no número de seguidores se deve simplesmente pela empresa estar em alta, o que naturalmente atrai a atenção de uma maior audiência e gera movimentações na base de usuários.
Com base nas suas manifestações, podemos esperar que Elon Musk defenderá a liberdade de expressão com unhas e dentes, mas o que ele ganhará com isso? Entre especulações e fofoca barata de internet, a verdade é que Musk recebeu 206 milhões de usuários ativos (segundo o Statista ). Considerando que ele pagou US$ 44 bilhões por 206 milhões de usuários, é seguro dizer que cada usuário lhe custou US$ 213,59. Agora, Musk terá acesso a dados como e-mail e telefone, localização e comportamento de uso da ferramenta; além, claro, de garantir um crescimento em citações gratuitas na mídia. Um grande negócio!
Por isso, não desconfie se, em um futuro próximo, as vendas da Tesla dispararem em diversos territórios do mundo. O tempo ainda revelará, mas esse custo de aquisição de clientes poderá se mostrar bastante baixo em relação ao potencial de ganho para Elon Musk em seus demais negócios em decorrência da operação com o Twitter. Mas uma verdade é incontestável: Elon é sem dúvidas o maior homem de negócios desde John D. Rockfeller.