Um dos mais valorizados dons humanos, especialmente importante quando se trata do exercício do poder, a inteligência está no centro dessas eleições. Graças ao PT.
Na hipótese de Dilma Rousseff ser a próxima presidente do Brasil, pelo que se tem visto ultimamente, não vai faltar inteligência no governo.
Uma das expressões mais repetidas pelo noticiário, a inteligência do PT tem sido quase onipresente na campanha. Está por trás de boa parte dos episódios mais eloqüentes da disputa.
Há bem pouco tempo, por exemplo, Lula vociferava no palanque perguntando “cadê esse tal de sigilo?”. Como se vê, o próprio presidente subestimou a inteligência do PT. Ela sabia como ninguém onde estava o tal do sigilo, conforme revelado agora pelo jornalista que o comprou.
A violação dos dados fiscais de pessoas próximas do candidato adversário serviria à inteligência do PT. Mas como ela é muito inteligente, já lançou a versão de que era intriga de Aécio Neves contra José Serra. Muito inteligente e muito criativa.
A versão durou pouco, porque a esperteza nem sempre é amiga da inteligência. A tese de que o jornalista caçador de sigilos servia a um jornal obediente a Aécio seria perfeita, se o jornalista não tivesse decidido se demitir, já a caminho do novo emprego – na inteligência do PT.
Não seja por isso. Lula assumiu imediatamente o posto de porta-voz da Polícia Federal, e anunciou o que a instituição deveria concluir sobre o caso.
O diretor da PF, que também é suficientemente inteligente para não contrariar o chefe, declarou que o escândalo nada tinha a ver com a campanha de Dilma. O Brasil então ficou conhecendo uma nova modalidade de inteligência: o grito.
Lula falou, tá falado. Com esse nível de clareza, quem é que vai ficar exigindo inquérito, processo legal e outras formas primitivas de inteligência?
Foi assim também no caso da intervenção de Dilma na Receita Federal para aliviar os Sarney, no caso do dossiê FHC montado a quatro mãos com Erenice, a grande mãe da Casa Civil, e outras obras da inteligência do PT. No que a coisa desanda, vem a ordem de cima para o cala a boca dos órgãos estatais de investigação.
Se o silêncio pode ser uma forma superior de inteligência, como dizem alguns sábios, o PT chegou ao topo da sabedoria.
Não existem más intenções no partido de Lula e Dilma. É tudo uma questão de dialética. A finalidade é permanecer no poder, causa nobre que a tudo sintetiza. No meio do caminho há percalços, como oposição, imprensa livre e outros ruídos.
É deles que a inteligência do PT cuida, para limpar o terreno rumo ao final feliz que esses desafortunados não enxergam.
Seria melhor se José Serra tivesse simulado o atentado com uma bolinha de papel. Lula já tinha até comparado o incidente com o teatro do goleiro Rojas no Maracanã. O fato de Serra ter sido realmente atingido por um objeto contundente só polui o triunfal enredo petista.
A vida real é burra. Não entende a inteligência do PT.
Publicado no blog de Guilherme Fiuza no portal da revista “Época”
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