*Por Matheus Gonçalves/Líderes do Amanhã
Na última quarta-feira (08/06), os brasileiros foram surpreendidos pela notícia da a invasão do Shopping Iguatemi, um dos mais luxuosos da capital paulista, por cerca de 80 integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto).
Gritando palavras de ordem e portando faixas que faziam referência à alta do custo de vida e dos itens da cesta básica, os manifestantes afirmavam que a invasão seria uma forma de protesto contra o aumento dos índices da fome no país, divulgados na mesma semana.
Assistindo àquelas cenas, não podemos deixar de nos perguntar: qual o objetivo do ato, se o funcionamento do shopping gera empregos, e são os empregos que garantem a comida na mesa do trabalhador? Existe alguma relação entre o aumento dos números da fome no país e o Shopping Iguatemi?
Evidente que não. O discurso dos manifestantes, para o seu público cativo, até parece fazer sentido, mas apenas porque é inteiramente baseado em um argumento falacioso, se valendo da conhecida falácia da soma-zero.
Esta falácia, adotada de forma ampla pelo discurso marxista, parte da falsa suposição de que transações econômicas são um processo no qual nunca se gera um resultado positivo, em que tudo que alguém ganha é perdido por outra pessoa.
Se houvesse lógica nesse argumento, transações econômicas voluntárias não continuariam a ocorrer, pois o seu princípio básico é o de que estas são benéficas a ambos os lados.
Ora, quando alguém acumula riqueza, num sistema de economia de mercado, todos ganham. Isso porque o volume de riqueza passível de ser gerada não é limitado. Para que alguém possa ter um determinado produto, várias pessoas precisam se beneficiar em toda a cadeia de produção.
Se não fosse assim, como explicar que os países classificados como “ricos”, nos quais o “luxo” e a “riqueza” são muito mais presentes do que no Brasil, tenham números tão menores de pessoas abaixo da linha da pobreza?
Não entendam errado, os números da fome que foram divulgados são tristes, merecem atenção. Porém, não podemos esquecer que vivemos um momento de pós-pandemia, que foi seguida de uma crise mundial de escassez de alimentos e de combustíveis, o que tem provocado aumento de preços e prejudicado a recuperação da economia.
Nada disso é culpa do lojista ou do cliente do Shopping Iguatemi e não é a paralisação daquela atividade econômica que fará o povo brasileiro ter comida na mesa.
Pelo contrário, os ataques à propriedade privada, como aquele perpetrado pelos manifestantes, tendem a afastar investidores e a prejudicar a confiança do consumidor em geral, quando o aquecimento da economia requer justamente um aumento de investimentos e do consumo. Pior, o ato acontece justamente quando o país apresentou o menor índice de desemprego registrado para um trimestre em abril desde 2015.
Poderia se falar que o ato foi isolado, contudo, apenas dois dias depois a sociedade foi surpreendida com um novo ato, agora do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), nas imediações da fábrica da Bayer em São José dos Campos.
Durante o ato, o grupo queimou pneus, o logotipo da empresa e pichou a entrada da fábrica, em protesto contra a produção de defensivos agrícolas para a agricultura brasileira, a mesma agricultura que, hoje, alimenta mais de um bilhão de pessoas pelo mundo.
Nada contra o direito dos manifestantes em protestar, pelo contrário, que o façam, e que todos possam o fazer de forma livre e plena, mas que o façam sem violência, sem prejudicar a liberdade e o direito de propriedade do outro.
Afinal, a violência manifestada na forma da invasão da propriedade privada não é o caminho para se pleitear nenhuma pauta, popular ou não, no Estado Democrático de Direito, por mais justa que possa ser considerada por seus defensores.
Quando os manifestantes escolhem não levar a sua pauta ao espaço público, mas sim invadir um centro comercial, optaram por ferir não apenas o direito fundamental à propriedade privada.
Talvez os protestantes tenham conseguido a atenção midiática que queriam, mas perderam a capacidade de serem ouvidos (ao menos fora do nicho político que já apoia tais atos), pois o único resultado alcançado foi a perturbação da ordem, prejudicando principalmente os trabalhadores do shopping, que dizem representar, a maioria dependente de comissões que deixaram de ser auferidas.
Fica claro, portanto, que jamais se tratou de um protesto contra o aumento de pessoas no mapa da fome, mas sim de um ato político, com objetivo de agredir àqueles que os manifestantes, se valendo de uma premissa equivocada e falaciosa, culpam pela denominada “injustiça social”.
E neste ponto, fica a pergunta: será que os manifestantes realmente entendem que o fechamento do comércio de luxo não contribuirá em absolutamente nada para a distribuição de renda? Por que eles não entendem que é precisamente os postos de trabalho gerados pela cadeia de comercialização de produtos de luxo que evitam mais desemprego? Difícil entender dessa forma.
Ao invés de protestar contra o “capital”, se aqueles que protestaram realmente desejam contribuir de alguma forma contra o problema da fome e do desemprego, deveriam então pedir por reformas profundas no nosso sistema político e tributário, pela construção de mais shoppings centers, pela implantação de mais indústrias, por mais liberdade de contratação e por mais facilidade na geração de emprego e renda. Jamais o contrário!