Quando um candidato vence uma eleição com 50% dos votos mais um, isto também significa que metade dos eleitores, menos um, votou contra o vencedor. Nesse caso, no Brasil, seriam cerca de 60 milhões de cada lado. Ao contrário das frias porcentagens, esses números são quentes e assustadores se vistos como homens e mulheres, suas vidas e seus destinos.
Mesmo quando a diferença final é maior, talvez por fatores regionais ou conjunturais, por acidentes de percurso ou fatalidades, os eventuais 0,01%, ou 10% de diferença não dão ao eleito mais poderes do que a Constituição lhe garante. Tão importante quanto a democracia ser o governo do povo, para o povo e pelo povo, como os políticos gostam de dizer mas não de fazer, é que a vontade da maioria prevaleça – respeitando os direitos da minoria e a Constituição. Se não, é chavismo.
Mas até Chávez sabe que nem sempre a maioria tem razão ou toma as melhores decisões, só por estar em maior número, mas as consequências são sofridas por todos. Maiorias não são infalíveis, condenaram Jesus Cristo e apoiaram Hitler, os maiores massacres da História foram de maiorias contra minorias, impondo a lei do mais forte sobre a civilização. Acima das maiorias, que são eventuais e sujeitas a interesses políticos e fraquezas humanas, estão as instituições democráticas, que são permanentes e impessoais.
Urna não é tribunal e a vontade da maioria não absolve ninguém de nada que afronte a lei e o Estado de Direito. Em campanhas acirradas e marcadas por ofensas e denuncias entre os adversários, suas histórias pessoais e seus aliados, o dia da vitória pode ser a véspera de confrontos que envenenam a democracia, movidos por paixões humanas. Como na Argentina.
A euforia rancorosa do “agora é nós” e as eventuais ameaças contra os vencidos tem um encontro marcado com a realidade da partilha do poder com os aliados e suas ambições politicas e pessoais – que pode até dar saudades dos adversários. Vença quem for, vitórias construídas com alianças espúrias, mentiras e trapaças tem vida curta e antecipam derrotas das melhores esperanças da população.
Fonte: Jornal “O Estado de S.Paulo” – 22/10/10
Alguém que afirma que as maiorias são sempre as que historicamente cometeram as maiores bárbaries, ou está mal informado ou pertence a casta miserável das elites, principalmetne brasileiras, a pior das elites do mundo, representadas e bem pela Rede Globo de Televião, que deseja pobres para fazerem caridade e terem sempre a sensação de que pertencem a outra raça humana que não a dos miseráveis produzidas por elas mesmas. Ora, se as maiorias são as que comentem erros grosseiros, o que como professor de Filosofia e História não me consta, seria o caso de que essas maiorias foram e são conduzidas pela ideologias de uma minoria, logo elas que são massificadas, não são as responsaveis diretas pela barbárie provocadas. Esse comentário me cheira a PSDB.É lamentável que tão querido intelectual se preste a esse papel discriminatório.