Um amigo meu falando sobre política há muito tempo atrás me disse a seguinte frase: “O PT é o único partido de verdade no Brasil. O resto é legenda.” Depois de algum tempo compreendi o que isso significava.
Quando observamos pesquisas do grau de identidade partidária no Brasil, vemos que sempre que se pede para uma pessoa se referir a algum partido político ao qual ela tenha alguma aderência ideológica, o PT é citado por algo em torno de 30% dos brasileiros. Os demais partidos praticamente não são citados, ainda que o brasileiro entrevistado se declare de direita, ele não sabe realmente qual partido retrata a linha ideológica que ele defende.
Muito se critica o PT por sempre lançar nas eleições federais um candidato à presidência e nunca assumir a posição de vice ou apoiador de uma chapa. De fato, conforme ouvi recentemente, “o PT adora ser apoiado, mas não é muito afeito a apoiar”. Isso pode ser interpretado de uma certa forma como um apego excessivo ao poder, mas vejamos de forma mais aprofundada: o PT, em qualquer situação, tem garantido pra ele aproximadamente 30% do eleitorado nacional, por ser, como dizem, “o único partido de verdade do Brasil”. Friamente falando, olhando do ponto de vista do partido, é dureza figurar como coadjuvante, sendo que você já começaria qualquer caminhada com essa quantidade votos garantida.
Nenhum outro partido no Brasil possui essa característica. Via de regra, eles são “legendas”, sem um posicionamento ideológico claro. Vão conforme a maré – sua ideologia é fluída, dependendo do momento e de com quem pretendem negociar. Isso sem falar dos demais partidos “nanicos”, com quase nenhum representatividade parlamentar.
Há muitos anos se fala da necessidade de repensar nosso sistema partidário no sentido de reduzir a quantidade de partidos e deixar as coisas mais esclarecidas sobre o posicionamento ideológico de cada um deles.
Desde 2018, percebemos que o presidente Bolsonaro capturou o posicionamento ideológico anti-PT, sendo a figura referência nesse movimento. Todavia, ele começou em uma legenda, tentou ir para outra e acabou no PL, partido integrante do centrão. O partido em si não tinha até então um claro posicionamento ideológico.
Essa eleição de 2022, especialmente com a bancada bolsonarista de peso que foi eleita para o Congresso Nacional, talvez o Brasil se encontre diante de uma oportunidade ímpar: migrar para um sistema bipartidário.
Costumo dizer que o único país em que o presidencialismo funcionou foi nos EUA. Nos demais países ricos, o sistema é parlamentarista ou algo próximo disso. O Brasil vem tentando esse presidencialismo há anos. Todavia, desde a redemocratização, só tivemos dois governos que conseguiram ter mandatos politicamente estáveis (e olhe lá): FHC e Lula.
Uma discussão no sentido de migração para o parlamentarismo, para que se tenha uma maior governabilidade no mandato do chefe do Poder Executivo é premente. Entretanto, diante da eleição desse ano, em virtude das características do novo Congresso Nacional, tendo o Bolsonaro capitaneado o posicionamento ideológico mais à direita, talvez possamos nos utilizar desse fato para uma migração para um sistema bipartidário como alternativa de majoração do grau de governabilidade. Isso implicaria em algumas leves mudanças nas eleições parlamentares para adequá-las num modelo de sistema de eleição majoritário, mas isso fica pra uma próxima discussão.
Posso arriscar dizer que o próximo passo no começo da constituição desse potencial sistema bipartidário, em virtude da mudança da posição ideológica geral da população brasileira, no sentido de um maior liberalismo econômico – uma vez que aquele Brasil antigo em que a população defendia políticas intervencionistas está desaparecendo aos poucos, talvez faça sentido uma leve migração do PT para uma esquerda mais posicionada ao centro, mais aliada aos valores do livre mercado e com novos nomes na liderança. A presença de Alckmin na chapa presidencial é um sinal nesse rumo. Tal reposicionamento faria o partido abarcar uma maior quantidade de eleitores que seus 30% fieis.
Para o caso do partido mais à direita, o Bolsonaro pode ter a oportunidade de consolidar a dominação numa única legenda, deixando claro o posicionamento político-ideológico da aliança, que nesse caso seria o PL. Posteriormente, precisaria haver uma reforma partidária no Brasil.
Não que eu acredite que um sistema bipartidário seria melhor para o Brasil do que o sistema que temos hoje. Em termos de sistema político, caso eu pudesse escolher, escolheria o parlamentarismo. Por conseguinte, tais palavras são somente insights de quem ficou refletindo sobre essa eleição. Qual a sua opinião?