Encontra-se em foco atualmente um debate sobre a necessidade de promover o aumento da participação do setor industrial no PIB brasileiro. Argumentos nesse sentido partem da premissa de que fomos vítimas de uma desindustrialização prematura, que precisa ser corrigida. Isto é, enquanto nas nações desenvolvidas o declínio relativo desse setor e a ascensão do de serviços ocorreram gradualmente, à medida que suas economias avançavam, no Brasil adquiriu ritmo acelerado.
Porém, em realidade, o chamado precoce declínio industrial brasileiro resultou da dinâmica verificada ao longo do tempo nos cenários econômicos nacional e mundial. Tal dinâmica tornou obsoleta a inevitabilidade de nosso país seguir a mesma evolução registrada nos desenvolvidos, com respeito à presença do setor no PIB. Isto é, a globalização, a impetuosa trajetória da China e da Coreia do Sul no comércio internacional e o êxito dos países que lideram a inovação tecnológica impactaram o destino da indústria brasileira.
Entre os requisitos apontados pelo governo como inerentes à ampliação do percentual do PIB proveniente desse setor, destacam-se:
a) ambiente macroeconômico e político favorável ao investimento;
b) reforma tributária;
c) ênfase à inovação tecnológica e aumento de competitividade;
d) investimento em educação e formação de mão de obra;
e) atuação eficaz do BNDES.
No entanto, apesar de inegavelmente necessários, esses requisitos não são suficientes. Neste momento, o fator indispensável à expressiva prosperidade da indústria nacional é o alargamento em grande escala dos mercados interno e externo. O bom desempenho dos mencionados requisitos facilita o acesso a esses mercados mas, por si só, não expande de forma transcendental o espaço para direcionar nossos produtos.
Após a Segunda Guerra Mundial, os períodos de maior crescimento industrial no Brasil aconteceram mediante o processo de substituição de importações de bens de consumo, bens de capital e insumos básicos.
Assim, já havia no país um mercado a ser suprido pelas fábricas em implantação. Esse processo gerou também certo incremento da demanda interna e das exportações industriais.
Hoje, se tentarmos substituir importações, constataremos que as oportunidades viáveis resumem-se apenas a um pequeno número de segmentos. Embora cientes do papel fundamental a ser protagonizado pela ampliação dos mercados doméstico e externo, convém não ignorarmos a complexidade dessa tarefa: a demanda interna encontra-se condicionada pela estrutura de concentração social de renda; e o vigor das exportações industriais enfrenta a acirrada concorrência ora prevalecente nas transações comerciais mundiais.
Não restam dúvidas de que modernizar e expandir o parque industrial é fundamental para o Brasil. Mas a elevação do peso do setor no PIB deve ser encarada como resultante ocasional e não como objetivo em si.