*Leticia Porto Moreto
Nos últimos anos, o conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) ganhou protagonismo no mundo corporativo, passando a ser considerado um dos principais vetores de valorização das empresas. No Brasil, essa transformação tem se refletido não apenas na imagem institucional, mas principalmente no valor de mercado das companhias que adotam essas práticas. Investidores, analistas e fundos institucionais passaram a considerar critérios ESG como parte central de sua tomada de decisão, associando responsabilidade ambiental, impacto social e solidez na governança à performance futura da empresa.
Diversos estudos têm confirmado essa tendência. Um levantamento da Refinitiv, com base em dados da América Latina, apontou que empresas com melhores pontuações ESG apresentaram desempenho superior em valor de mercado e menor volatilidade das ações no longo prazo. No Brasil, pesquisas conduzidas por instituições como a FGV e o IBGC indicam que companhias listadas no Novo Mercado da B3 — que exige padrões mais elevados de governança — tendem a ter um prêmio de valor de mercado entre 10% e 20% superior em comparação a empresas fora desse segmento. Essa diferença reflete a percepção do mercado de que boas práticas ESG reduzem riscos, aumentam a previsibilidade dos resultados e favorecem o crescimento sustentável.
Além disso, empresas com políticas ESG consolidadas tendem a apresentar menor custo de capital. Ao aumentar a confiança dos investidores e reduzir a assimetria de informações, essas companhias conseguem acessar crédito e financiamento em condições mais vantajosas, o que melhora diretamente seu valor de mercado especialmente quando se consideram métricas como o Q de Tobin, que mede a relação entre valor de mercado e valor contábil dos ativos. A governança, em particular, atua como um filtro que disciplina a gestão e melhora a alocação de recursos, o que reforça os fundamentos da empresa aos olhos do mercado.
Contudo, empreender no Brasil continua sendo um desafio. As empresas enfrentam um ambiente marcado por juros reais elevados, complexidade tributária e instabilidade econômica. O custo do capital é elevado, e a carga tributária pode inviabilizar investimentos de longo prazo. Diante desse cenário, adaptar-se às práticas ESG não é apenas uma escolha estratégica é uma necessidade para quem deseja se destacar. A adoção desses princípios funcionam como uma credencial de confiabilidade em um país onde o risco percebido ainda é alto. Empresas que conseguem alinhar seus modelos de negócio às demandas ambientais, sociais e de governança se tornam mais atraentes para investidores nacionais e internacionais, ganhando espaço no mercado e aumentando significativamente seu valor de mercado.
Portanto, os dados mostram que as práticas ESG já deixaram de ser tendência para se tornarem critério decisivo de valorização no mercado de capitais. No contexto brasileiro, onde os desafios macroeconômicos impõem ainda mais pressão sobre a gestão empresarial, alinhar-se ao ESG pode ser o diferencial entre estagnar ou crescer. Companhias que incorporam essas práticas fortalecem sua reputação, otimizam seus processos internos e se posicionam com vantagem competitiva em um mercado cada vez mais exigente e globalizado.