Hoje, defender o mérito como princípio tornou-se quase um ato de rebeldia. Muitas vezes acusada de elitista, excludente ou até cruel, a noção de que o esforço individual deve ser recompensado perdeu prestígio entre parte da juventude. Mas será que essa ideia está realmente morta ou apenas mal compreendida? Afinal, acreditar que cada pessoa possa alcançar seus objetivos por mérito próprio é reafirmar valores como responsabilidade individual, liberdade de escolha e igualdade de oportunidades, todos pilares essenciais do pensamento liberal.
Do ponto de vista liberal, a meritocracia é entendida como um mecanismo justo de organização social, pois distribui recompensas com base em critérios objetivos, como esforço, competência e desempenho, em vez de privilégios hereditários, conexões políticas ou favoritismos. Essa lógica respeita a liberdade individual, valor central no liberalismo clássico, ao permitir que cada pessoa busque seus próprios objetivos e colha os frutos de suas decisões.
Séculos depois, o raciocínio de Locke e Smith ainda incomoda aqueles que preferem resultados iguais a oportunidades iguais. Sem o espírito de recompensa pelo esforço, o motor da inovação perde força. Esse princípio, portanto, não apenas estimula o progresso individual, mas também sustenta o dinamismo econômico e social ao premiar quem mais contribui com inovação e produtividade.
Apesar de amplamente valorizado por pensadores liberais, esse ideal vem sendo cada vez mais relativizado entre os jovens, especialmente diante de uma cultura digital que exalta resultados imediatos, viralizações instantâneas e uma ideia ilusória de sucesso desvinculado do esforço contínuo. Muitos jovens da geração Z demonstram ceticismo em relação à meritocracia, não por desconhecerem seu valor, mas por viverem em um ambiente marcado por insegurança econômica, ansiedade de performance e excesso de comparação nas redes sociais.
Apesar das críticas que apontam desigualdades de origem como obstáculo a esse sistema, pensadores liberais defendem que tais falhas exigem a ampliação da igualdade de oportunidades, e não o abandono do mérito como critério. Sandel (2020) critica a meritocracia por reforçar desigualdades, mas autores como Hayek (2011) argumentam que a justiça social só é possível quando se respeita a liberdade e o mérito individual. Assim, mesmo com limitações, a meritocracia permanece como o modelo mais compatível com os valores de uma sociedade livre e responsável.
Alguns países são frequentemente citados como exemplos de sociedades em que os princípios meritocráticos são mais valorizados e aplicados, sobretudo em setores como educação, mercado de trabalho e serviço público. Enquanto o Brasil debate cotas e privilégios, países como Singapura apostam no mérito desde cedo e colhem resultados concretos adotando um rigoroso sistema educacional baseado em exames nacionais, no qual o desempenho individual determina diretamente as oportunidades de carreira, além de manter um funcionalismo público altamente profissionalizado e meritocrático (Tan, 2008).
Esse conceito está intimamente ligado à inovação e à produtividade, especialmente em economias de mercado, onde o desempenho individual é recompensado e estimulado. Startups e empresas de tecnologia são exemplos evidentes: modelos como os do Vale do Silício se estruturam sobre o reconhecimento de competências, criatividade e resultados, mais do que em vínculos pessoais ou burocráticos. Empreendedores como ElonMusk, Steve Jobs e tantos outros ilustram trajetórias baseadas em mérito, onde a inovação é fruto da liberdade de agir e da competição por resultados. Conforme destacado pelo World Economic Forum (2023), os ambientes mais inovadores são aqueles que incentivam talentos a prosperar por suas habilidades e produtividade, e não por vantagens decorrentes dos círculos familiares aos quais os indivíduos pertencem. Enquanto isso, no Brasil, o sucesso ainda é visto como algo a ser regulado e não replicado.
Na educação, esse sistema valoriza o esforço individual como elemento essencial para a formação de cidadãos críticos e responsáveis. Ao premiar o mérito, as instituições incentivam a dedicação e o comprometimento dos estudantes, promovendo um ambiente de aprendizagem mais engajado e produtivo. Em vez de premiar quem se dedica, muitas escolas públicas hoje tratam todos os alunos como iguais, mesmo aqueles desinteressados. Nesse ambiente, premiar o mérito é visto como ‘elitismo’. O resultado? Desmotivação geral. Além disso, ao proporcionar oportunidades com base no desempenho e na superação pessoal, atua como um mecanismo legítimo de justiça social, permitindo que todos os alunos, independentemente de sua origem, tenham a chance real de alcançar seu potencial máximo.
A meritocracia pressupõe que todos os indivíduos tenham condições mínimas para desenvolver seu potencial, o que torna fundamental a garantia da igualdade de oportunidades. Nesse sentido, o papel do Estado liberal não é igualar os resultados, mas assegurar o acesso universal a serviços básicos essenciais, como educação de qualidade, saúde e segurança. Somente com essas bases garantidas é que o mérito individual poderá florescer de forma justa e legítima. Ao evitar intervenções excessivas na busca pela igualdade de resultados, o Estado promove um ambiente onde o esforço e a competência são verdadeiramente valorizados, incentivando a responsabilidade pessoal e a mobilidade social. Assim, Assim, mérito e igualdade de oportunidades coexistem de forma complementar, sendo a segunda condição necessária para a realização plena da primeira.
Uma crítica comum à meritocracia é que ela ignora as desigualdades históricas que limitam o ponto de partida de muitos indivíduos, perpetuando injustiças sociais. Contudo, o liberalismo reconhece a existência dessas desigualdades estruturais, mas defende que a liberdade individual é o principal instrumento para superá-las, e não a tutela permanente do Estado.
Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva (2023), 61% dos jovens brasileiros acreditam que o sucesso está mais ligado a quem se conhece do que ao quanto se estuda ou trabalha. Esse tipo de percepção, embora compreensível em um cenário de desafios reais, revela uma crise de confiança no valor do mérito, o que reforça ainda mais a necessidade de reafirmar os pilares liberais da responsabilidade individual e da busca constante por excelência.
Para além do pessimismo crescente, há também jovens que se tornam vozes ativas em defesa do mérito como ferramenta de superação e mobilidade. É o caso de influenciadores como Thiago Nigro, conhecido como “Primo Rico”, que alcançou milhões de seguidores promovendo o valor do esforço, da disciplina e do planejamento financeiro como meios legítimos para atingir a liberdade individual.
Da mesma forma, empresários como Flávio Augusto da Silva e Joel Jota se tornaram referências entre jovens ao defenderem que o sucesso não depende de origem, mas de dedicação e constância, princípios profundamente alinhados à lógica meritocrática. Esses exemplos revelam que, mesmo num tempo em que muitos questionam o mérito, há uma nova geração liberal que o resgata como caminho para o protagonismo pessoal e a emancipação do indivíduo frente às promessas ineficazes do igualitarismo estatal.
Embora a meritocracia não seja um sistema perfeito, ela continua sendo o modelo mais alinhado aos princípios da liberdade individual, ao incentivo ao esforço pessoal e ao desenvolvimento de uma sociedade mais dinâmica e justa. Apesar dos desafios e das desigualdades que persistem, a meritocracia promove um ambiente onde o talento e a dedicação são reconhecidos e recompensados de forma legítima, estimulando o progresso social e econômico. Dessa forma, desacreditar o mérito é o primeiro passo para aceitar o fracasso como destino.