O Instituto Millenium conversou com Rosiska Darcy, presidente executiva do movimento Rio Como Vamos, sobre a campanha “Deixa de ser Mané!” que está sendo lançada para estimular a adoção de atitudes cidadãs simples e fundamentais para o bem estar da cidade, como não jogar lixo nas ruas ou nas praias, deixar os cruzamentos livres, só estacionar em locais permitidos etc.
A campanha aproveita o momento de maior sensibilização da sociedade civil no Rio, principalmente depois da atuação do Estado no Complexo do Alemão, para engajar a população na construção e manutenção de uma cultura cidadã. “Devemos sair dessa posição de “nós e ele” (o governo), para nos incluirmos na responsabilidade, no papel que cabe a cada um”, disse Darcy, que destaca que a atitude Mané não é apenas carioca: “É claro que esse é um comportamento nacional. É um problema do Brasil.”
A campanha tem como figura principal o Mané, um sujeitinho azul com um sorriso sarcástico e um sorvete esparramado na cabeça, prova de que as bobagens que faz se revertem contra ele. Em breve, as peças publicitárias estarão nas ruas e a população também vai poder participar fiscalizando atitudes manes e enviando fotos, filmes e comentários para o site: www.deixadesermane.com.br.
O Instituto Millenium apoia a campanha, que enxerga como uma defesa ao Estado de Direito e à responsabilidade.
Leia a entrevista.
Instituto Millenium: O que é e como surgiu a Campanha Deixa de ser Mané no Rio Como Vamos?
Rosiska Darcy: Há algum tempo, o Rio Como Vamos analisa os indicadores de qualidade de vida da cidade, além de monitorar os índices, a entidade estimula a criação de uma cultura cidadã no Rio de Janeiro. Daí nasceu a idéia da campanha (desenvolvida pela DPZRio10 braço de negócios da agência DPZ, voltado para ações relacionadas à década de eventos que o Rio terá pela frente). A campanha trabalha a figura do “bobo esperto”, do Mané que é o sujeito que fecha o cruzamento e é um apelo à responsabilidade da sociedade civil.
Não é possível a Companhia de Lixo Urbano (Comlurb) ter que varrer a Avenida Rio Branco (uma das principais ruas do centro da cidade) seis vezes por dia, por exemplo. É o que acontece hoje.
Instituto Millenium: O sujeito que reclama que a cidade é suja ou se indigna pela falta de respeito às regras, por exemplo, reconhece em si mesmo atitudes não-cidadas? Ou o não-reconhecimento é um problema que agrava a “cultura”do Mané?
Rosiska Darcy: É difícil não reconhecer essa atitude em si mesmo. Todo mundo tem atitudes “manés” ou já teve alguma vez na vida e sabe disso. O problema não é esse. O problema é quando se acha que o normal é agir assim. Por isso a campanha quer criar um constrangimento. A ideia é combater a cultura de que ser “esperto”, no sentido de burlar as regras, é legal.
Instituto Millenium: A sra acredita que a descrença nas instituições, a falta de confiança nelas possa influenciar atitudes não-cidadãs?
Rosiska Darcy: Não, ao contrário, eu não acredito que exista essa descrença generalizada, acredito que o clima na cidade do Rio é outro e está mudando, a cidade está recuperando a confiança e a esperança, graças aos acontecimentos recentes no Complexo do Alemão. A gente vive um momento de mobilização civil.
A gente não pode se agarrar à ideia de que o governo é que deve fazer tudo, e ficar sempre com esse discurso de colocar a culpa na instituição. Devemos sair dessa posição de “nós e eles”, para nos incluirmos na responsabilidade, no papel que cabe a cada um.
A cidadania é uma via de mão dupla. Por exemplo, se a prefeitura coloca latas de lixo na rua, eu tenho que jogar o lixo dentro dela. Precisa ter a lata de lixo, mas precisamos, também, ter quem jogue o lixo dentro dela, ou não funciona.
Nós (O Rio Como Vamos) fazemos uma pesquisa no Rio que trabalha com o Índice de Percepção da cidade. Realizamos o estudo e um dos resultados revelou que 87% da população carioca acha a cidade suja. Mas se esse numero tão grande de cidadãos está insatisfeito com a limpeza na cidade, quem joga o lixo na rua? Os outros 13%? Claro que não se pode responsabilizar apenas essa minoria pela sujeira do município. E aí é aquela história do indivíduo reconhecer o seu papel de cidadão. Quem suja a cidade então?
Instituto Millenium: Durante quanto tempo a campanha pretende sensibilizar o carioca?
Rosiska Darcy: A campanha é para o resto da vida. Temos um foco agora para a Copa e para as Olimpíadas, mas a idéia é que ela seja permanente e evolua, ajudando a construir e divulgar a cultura cidadã em vários aspectos. A “Deixa de ser Mané!” tem como característica que cada um se aproprie da idéia e participe, fiscalizando, enviando fotos para o site www.deixadesermane.com.br, que vai receber todo o material sobre a campanha.
Instituto Millenium: A cultura do Mané é especificamente carioca?
Rosiska Darcy: A Rio Como Vamos tem o Rio de Janeiro como foco, mas é claro que esse é um comportamento nacional. É um problema do Brasil.
Tomando ainda a sujeira, o comportamento de quem suja a cidade tem um fundo na nossa sociedade escravagista. No fundo, as pessoas deixam de limpar porque acham que tem quem limpe por elas. Porque quando essas mesmas pessoas viajam para outros países não fazem isso em outros lugares.
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