O mundo caminha numa recessão. Isto parece fato para todos que acompanham os dados econômicos deste vasto mundo. O problema é que algumas instituições são mais pessimistas do que outras. Esta é a impressão que se tem quando observamos as estimativas do FMI sobre o cenário econômico mundial deste ano e do próximo.
Das suas projeções, chega-se à conclusão que o mundo está fadado a um “grande inverno”, com alguma perspectiva de recuperação ao longo de 2010 ou mesmo somente em 2011. Neste ano, pode-se desistir. Para os que aguardam uma reversão a partir do quarto trimestre é melhor rever os acontecimentos, pois não é isto que o FMI está enxergando. A crise é profunda e duradoura, segundo ele.
Segundo os técnicos desta instituição, no relatório WEO (World Economic Outlook) de abril de 2009, a recuperação da economia global deverá ser fraca nos próximos meses. Além disto, esta crise será mais longa do que as outras ocorridas em anos recentes.
Geralmente, uma crise, na sua fase mais delicada, costuma durar cerca de 12 meses, para depois haver alguma recuperação. Não é isto que acontecerá no caso desta, iniciada com uma crise financeira e espalhada duramente sobre a economia real, com o mundo mergulhando numa recessão. Para o FMI, “as recessões, ocorridas desde o início do século passado, se tornaram mais fracas e menores durante as últimas duas décadas, enquanto as expansões se tornaram mais fortes e longas. Já as recessões, associadas a crises financeiras, costumam ser mais severas e duradouras do que às relacionadas com outros choques e suas recuperações geralmente são fracas, acompanhadas de pequena demanda doméstica e condições de crédito apertadas.” Coloquemos, portanto, “nossas barbas de molho”.
Compactuando com este cenário pouco alvissareiro, Nouriel Roubini acha que o mundo deverá experimentar uma crise sob a forma de “U” com um forte mergulho, um vale duradouro, e uma recuperação lenta lá para meados de 2010, se não ocorrer apenas em 2011. Não será uma crise de recuperação rápida, sob a forma de “V” , nem uma crise com estagnação duradoura, como o Japão dos anos 90, sob a forma de “L”.
É certo de que o mundo deverá experimentar uma recessão neste ano, com a taxa de expansão se tornando negativa em 1,3%, mesma projeção para o Brasil pelo FMI, mas alguma recuperação deve começar a tomar forma nesta virada de semestre pelo lado doméstico, com a demanda se recuperando pelo “efeito renda” e a normalização do crédito. Nos países desenvolvidos, por outro lado, a recuperação será bem mais lenta, destacando-se neste caso a Zona do Euro e o Japão, este último previsto para experimentar um mergulho recessivo de 6,2%. Na Zona do Euro, a falta de uma convergência macroeconômica entre os países-membros, com políticas, às vezes tímidas, às vezes desfocadas, deverá corroborar para esta lenta recuperação, sem esquecer a velha “euroesclerose”, fruto de um excesso de well fare state, no contexto de sistema de seguridade social pesado e atrasado.
Um problema, no entanto, é que a superação desta crise precisa nascer do saneamento do sistema bancário, com a oferta de crédito restabelecida, irrigando os sistemas econômicos ao redor do mundo. Por enquanto, não é isto que se observa. O FMI, por exemplo, ainda estima um volume de créditos podres no total de US$ 4,1 trilhões, sendo que apenas 30% deste total já foram reconhecidos. Ou seja, ainda falta muito para o restabelecimento da saúde do sistema financeiro, como dito acima, uma condição considerada essencial para que a economia mundial volte a crescer com vigor. A instituição prevê uma retração de 4% na oferta de crédito para o setor privado dos EUA e da Europa neste ano de 2009.
Além disto, na divulgação dos bons resultados nos balanços das instituições financeiras neste primeiro trimestre de 2009 é preciso uma certa cautela, visto que estes resultados vieram da injeção de recursos dos bancos centrais e dos Tesouros, e não da retomada do crédito, ainda em queda. O FMI, por exemplo, acha que os EUA e outros países avançados precisarão fazer muito mais do que fizeram até aqui para restaurar a confiança dos bancos e estabilizar o sistema financeiro, em alguns casos, assumindo temporariamente o controle das instituições mais frágeis para saneá-las, um passo que o governo americano tem feito de tudo para evitar. É isto, aliás, que nós veremos do “teste de stress”, em fase final. Correram boatos que dos 19 bancos avaliados cerca de 16 vieram com problemas de solvência, o que coloca o mercado sob suspense neste momento, já que o resultado sai no dia 4 de maio. Caso estes bancos não atravessem este período de auditoria e de enfrentamento aos vários cenários construídos, a alternativa derradeira será a estatização.
O FMI, aliás, está calculando que os bancos americanos e europeus terão que levantar US$ 875 bilhões neste e no próximo ano para reforçar seu capital e voltar a operar em condições saudáveis depois que forem contabilizadas as perdas ainda não registradas em seus livros. Os bancos americanos precisarão de pelo menos US$ 275 bilhões. Desde 2007, bancos americanos e europeus levantaram cerca de US$ 904 bilhões em capital para cobrir prejuízos decorrentes da crise, segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF). Os governos dos países mais avançados providenciaram cerca de 40% desses recursos.
Sobre as projeções deste ano e do próximo, o FMI está vislumbrando uma recessão mundial mais profunda e uma recuperação lenta, uma vez que os mercados financeiros estão demorando para se estabilizar. Para a economia mundial, o que se prevê é uma queda de 1,3% em 2009 e um crescimento de 1,9% em 2010. Segundo o FMI, “mesmo depois de a crise acabar, haverá um período de transição difícil, com taxas de crescimento significativamente abaixo das registradas num passado recente”. Os Estados Unidos devem recuar 2,8% em 2009, a Zona do Euro 4,2% e o Japão 6,2%. Os países emergentes devem registrar crescimento do PIB de 1,6% neste ano e de 4,0% em 2010. O crescimento na China vai desacelerar para 6,5% e deve crescer 7,5% em 2010. Por fim, a Índia registrará um crescimento de 4,5% em 2009 e de 5,6% em 2010.
Esta Consultoria está mais otimista, mas sem perder a cautela costumeira. Achamos que o PIB deve estagnar neste ano, mas alguma recuperação é esperada para o segundo semestre, com a recuperação se consolidando em 2010, dado as várias medidas tópicas adotadas, como a desoneração de IPI para automóveis, linha branca e outros, e na área creditícia. Junto a isto, o Bacen deve sancionar as expectativas dos mercados, reduzindo o juro em 1 ponto percentual na reunião do Copom desta semana, dias 28 e 29, ajudando no lento processo de redução do spread e da inadimplência. Sendo assim, acreditamos que a demanda interna, pelo lado do consumo privado e do governo e os investimentos públicos retomados deverão acionar a economia brasileira neste ano e no próximo, nos descolando, mesmo que parcialmente, da fase mais aguda da crise entre os desenvolvidos.
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