por Adriano Pires e Abel Holtz
Nos últimos dias vimos nos jornais uma deliberada colocação quanto à anteposição entre duas das melhores fontes de energia do nosso país – nuclear e hidrelétrica – entre tantas outras, como eólica, biomassa, solar, maremotriz, térmicas a gás natural e a carvão, etc. O que causa estranheza são as projeções das taxas de crescimento do PIB para os próximos anos serem superiores a 5% ao ano, definindo a necessidade de incrementar a oferta de energia em uma taxa de 6,5%. Isso significa a necessidade de ampliar o parque gerador de uns 5 mil MW médios a cada ano. Haja fonte para atender a essa realidade.
Ao considerar a dimensão do nosso território e o desenvolvimento que se espraia por todas as regiões, vamos ver que a competência que se espera das autoridades do setor elétrico para atender os consumidores é muito grande, e há um desafio maior e custos menores, incluindo a diminuição da carga tributária e o aproveitamento total das fontes existentes. O maniqueísmo espelhado na provocação aludida não considera que, apesar da existência de um potencial insofismável de hidrelétricas – quase todo na Amazônia – e pela postura atual, estamos nos rendendo a limitações estapafúrdias em muitas das vezes, e construindo usinas sem reservatórios ou com ínfimos, de altos investimentos e baixa produção de energia assegurada – vide Belo Monte. No lado da energia nuclear, estamos concluindo uma usina a cada 15 anos e temos a 6ª reserva mundial de urânio – tendo prospectado pouco mais de um quarto do nosso território – e somos um dos três países do mundo a dominar o ciclo do combustível.
Quanto às térmicas, damo-nos ao luxo de desperdiçar milhões de metros cúbicos por dia de gás natural na sua queima fora das termoelétricas, porque os indicadores espelhados no planejamento do setor as excluíram e nenhum empresário se interessará em investir em algo demonizado. Ao mesmo tempo, as reservas do combustível ampliam-se a cada dia e não sabemos o que fazer com elas. As térmicas a carvão são objeto de avançadas pesquisas, capitaneadas por EUA e China, para torná-las cada vez menos emissoras de CO2, enquadrando-as nos limites dos acordos climáticos. Enquanto isso, esses países, ao lado de Alemanha, Rússia, Itália e nossos vizinhos, Argentina, Peru, Venezuela, Bolívia e Chile, entre outros, continuam com sistemas de produção de energia elétrica majoritariamente térmicos. E não blasfemam sobre essa realidade.
Quando olhamos para a energia eólica, engatinhamos e temos o potencial de multiplicar por sete a atual produção dessa energia que, por sua regionalização, prescinde de extensas linhas de transmissão. Os parques eólicos offshore ainda não foram considerados e nossa costa tem mais de 8,5 km, o que poderá incrementar a disponibilidade dessa fonte por todos os Estados litorâneos, além de abastecer as instalações de exploração do pré-sal, se instalados em condições apropriadas no seu entorno.
A biomassa já contribui regional e sazonalmente com mais de 4 mil MW médios. Mas essa fonte não se restringiria, caso quiséssemos a queima do bagaço de cana. A experiência com capim-elefante está celeremente sendo desenvolvida e a sazonalidade, hoje detectada pelo uso dos rejeitos da cana-de-açúcar, deverá ser extirpada e, com isso, poderemos gerar com biomassa durante o ano todo. Quanto à energia solar, quer fotovoltaica, quer termossolar, está se tornando cada vez mais competitiva e tem que compor a matriz energética de qualquer país que necessite de eletricidade.
O que queremos deixar claro é que não podemos abandonar qualquer das fontes existentes. Cabe ao governo definir diretrizes que considerem a realidade e criar condições para que todas as fontes sejam viáveis, e que a energia gerada tenha preços compatíveis com a realidade dos consumidores. Para isso é preciso que o governo deixe de encarar o setor de energia como um coletor de impostos, mas, sim, como um insumo essencial para o crescimento econômico do País e o conforto da sociedade.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 09/02/2011
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