Na década dos 30 do século passado, o escritor alemão Stefan Zweig, judeu, fugindo da Alemanha nazista, veio para o Brasil. Depois de alguns anos aqui morando, escreveu livro que ficou celebre: “Brasil , país do futuro”.
Agora outro alemão, o jornalista Alexander Bush, que trabalha há 16 anos no Brasil, acaba de lançar instigante livro com o titulo: “Brasil, país do presente – O poder econômico do gigante verde” (Ed. Cultrix, 2010). É interessante rever passagens do livro. Começa dizendo que subestimar o Brasil é um erro grave pois, o Brasil, atualmente, é o celeiro de matérias primas da economia mundial. Faz rasgados elogios a empresas privadas brasileiras. Exemplos: a Ambev que, com a compra da maior cervejaria americana Anheuser-Busch, fabricante da famosa cerveja Budweiser, tornou-se a maior fabricante de cerveja do mundo, dirigida pelo brasileiro Carlos Brito.
Outro exemplo: o frigorífico JBS-Friboi. Depois de comprar, em 2008, a norte-americana Swift Foods Company, segundo maior frigorífico dos Estados Unidos, tornou-se o maior exportador de carne bovina do mundo. Possui 37 fábricas no Brasil, Argentina e Austrália. Mais: a Cosan, hoje a maior exportadora mundial de açúcar e etanol. A Cosan, sozinha, processa mais cana de açúcar do que a Austrália, terceiro maior exportador internacional de açúcar. Diversificou suas atividades. Comprou por 1 bilhão de dólares a rede de postos de gasolina da Esso no Brasil para distribuir o etanol por ela produzido. Fundiu-se com a subsidiária da holandesa-britânica Shell, dando origem à maior empresa mundial de biocombustíveis, avaliada em cerca de 12 bilhões de dólares. Juntas tem uma rede de 4.500 postos de gasolina no Brasil, onde pretende distribuir seu etanol.
A Embraer depois de privatizada, tornou-se a maior fabricante de jatos regionais do planeta. E a Vale hoje é a segunda maior exportadora de minério de ferro do mundo, aumentando muito sua capacidade exportadora depois de privatizada. A Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) é a maior do mundo em pesquisas da agricultura tropical, sendo notáveis seus progressos no aproveitamento do cerrado brasileiro. Estes são apenas alguns exemplos dados pelo autor.
Mas, o livro não é só elogios. Referindo-se ao setor bancário, nota, com razão, que em nenhum outro lugar do mundo os spreads (diferença entre a taxa de juros na captação do dinheiro e na oferta de crédito) são tão altos quanto no Brasil. Afirma que, em 2008, o spread bancário foi de cerca de 3,5%. A porcentagem é 11 vezes maior do que nos países industrializados, afirma. Pelo exemplo, concluo: não é de admirar os lucros astronômicos dos bancos brasileiros, com prejuízo para o crescimento da economia brasileira, pois a função principal dos bancos é ajudar a atividade mercantil.
Vai além. Declara que o Congresso brasileiro, com os exemplos da má conduta habitual de nossos legisladores, mais preocupados com suas mordomias do que com o bem da coletividade, está à margem da sociedade. Mas, comenta: a estabilidade democrática que apresentamos é um trunfo na América Latina.
E, termino, com esta analise do autor: “Se fosse possível definir um ranking para avaliar a dinâmica brasileira em seus três grandes aspectos – economia, política e sociedade – eu diria que a economia ocupa o primeiro lugar. Em segundo vem a sociedade, que se adapta razoavelmente depressa às novas realidades. E, em ultimo lugar, eu colocaria a política que, reage devagar às mudanças’’. Concordo em gênero, número e grau.
Engraçada a prioridade da Economia, à frente, inclusive, da sociedade, animal obrigado a se adaptar. A quem ela serve, então? O que vemos é a reedição ampliada do milagre brasileiro, ao gáudio do dragão.