Existe uma dose considerável de sabedoria política por trás da decisão do governo de podar o Orçamento da União em R$ 50 bilhões – corte que atingiu, em cheio, as emendas apresentadas pelos parlamentares. Trata-se, antes de ser uma prova de ortodoxia monetarista, de uma atitude capaz de cortar pela raiz um hábito que ameaçava se espalhar como erva daninha pelo Parlamento.
Desde a posse do novo governo, o relacionamento do Executivo com o Congresso tem sido marcado por duas constatações antagônicas, ambas verdadeiras.
A primeira é a de que nunca houve no Brasil, em tempos de democracia, maioria parlamentar tão folgada quanto esta. A outra constatação é a de que isso, ao contrário de garantir ao Executivo o poder de implementar políticas de seu interesse, acabou gerando uma certa tensão.
Recordemos que a ideia de dar ao salário mínimo um aumento superior ao planejado (algo que impossibilitaria o cumprimento das metas fiscais) não saiu da oposição.
Antes, partiu de um partido da chamada “base aliada”, que julgou modesto seu quinhão na partilha de cargos. Depois que o PMDB puxou o debate, a oposição o seguiu.
A tentativa dos líderes da legenda de separar a insatisfação dos peemedebistas da decisão de apoiar o aumento do mínimo não enganou o mais cândido dos eleitores.
O corte de R$ 50 bilhões cria um colchão de segurança que permitirá ao governo absorver com tranquilidade os efeitos de medidas como essa. Isso é bom.
E mais: a partir de agora, os parlamentares entenderão que a chantagem talvez não seja um instrumento eficaz de relacionamento com o Executivo. Ninguém pode afirmar que esse raciocínio foi levado em conta na decisão dos cortes. Se não foi, certamente será daqui por diante.
Emendas parlamentares são importantes e não podem acabar. Mas não podem existir dissociadas dos grandes objetivos fiscais.
Ou os parlamentares aprendem isso e partem para um relacionamento mais maduro ou talvez percam mais do que poderão ganhar com a chantagem.
Fonte: Brasil Econômico, 11/02/2011
No Comment! Be the first one.