O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva Santos, fez ontem uma afirmação no mínimo temerária. Segundo ele, a inflação não pode ser usada como “desculpa” para se negar ao salário mínimo um aumento superior aos R$ 545 pretendidos pelo governo.
Santos talvez se lembre do tempo em que a luta por melhores salários transformava os dirigentes sindicais em líderes políticos. E não se está referindo, aqui, ao mais destacado de todos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os nomes em questão são Jair Meneguelli, Vicente Paulo da Silva, Luiz Marinho, Olívio Dutra e tantos outros que fizeram da carreira sindical o ponto de partida para trajetórias políticas bem-sucedidas.
Ou, para sair do campo da CUT, a Paulo Pereira da Silva, que acrescentou o nome da central que presidiu a seu apelido político e passou a se apresentar como Paulinho da Força (Sindical).
Todos têm em comum o fato de terem estado na linha de frente na época em que a renda do trabalhador era corroída dia após dia e apenas uma ação sindical combativa devolvia ao salário parte do poder de compra perdido para a inflação.
Sob esse ponto de vista, a inflação fazia bem à carreira dos sindicalistas. E, portanto, faz falta aos que sonham com os votos que a estabilidade levou.
Se considerarmos apenas os últimos cinco anos, veremos que, com os R$ 545, o salário mínimo terá subido 41% além da inflação nesse período. Mesmo assim, as lideranças sindicais fazem pressão por um aumento que supera as possibilidades do erário. O espantoso de tudo é o oportunismo que cerca a discussão do assunto.
Qualquer brasileiro que tenha vivido os momentos mais críticos do período inflacionário sabe que o gasto desenfreado de dinheiro público gera o déficit do qual a inflação se alimenta – e que o salário mínimo exerce forte pressão sobre esses gastos.
O governo precisa conter os gastos agora para cortar pela raiz o risco do retorno inflacionário – que seria o que de pior poderia acontecer não só para quem ganha o mínimo, mas para todo brasileiro que vive de salário.
Todos os avanços que o trabalhador obteve no período Lula foram construídos sobre o alicerce da estabilidade herdada de Fernando Henrique Cardoso. Colocar essa estabilidade em risco é a maior de todas as irresponsabilidades.
Fonte: Brasil Econômico, 17/02/2011
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