Assim como no passado muita gente achou que comprando a estrela do PT e votando no Lula estaria automaticamente subindo num expresso rumo a um país sério, atualmente ainda existem pessoas que acreditam na força do gesto simbólico além da força que ele realmente possui.
Muitos dos que compraram aquela estrelinha pensando que ajudavam um partido “ético” a enfrentar os poderosos coronéis da política brasileira, posso me incluir nessa pelo menos num par de eleições, esqueceram que o seu apoio não significava um fim, mas um meio.
Uma vez no poder, o partido da ética estava ombreado com Sarney, Renan Calheiros e outros representantes de tudo aquilo que eles juraram combater. A ética acima de qualquer suspeita foi substituída pela teoria do “roubo pelo bem do país”.
A tal militância então se dividiu entre os comprados e os desiludidos, e talvez essa ressaca da pseudo-ética, que já dura uns bons oito anos, tenha anestesiado o brasileiro até o ponto em que chegamos hoje.
É muito bonito colocar uma tarja verde na foto do Messenger em apoio à causa oposicionista no Irã.
É legal saudar a influência das redes sociais e criar abaixo-assinados contra ou a favor tudo, abrir petições online, passar para frente do último texto do Jabor (ou de um de seus clones).
Esse ativismo globalizado e, digamos, seguro da internet, é inegavelmente um mobilizador e facilitador da organização de protestos e da sua divulgação, mas precisamos não esquecer que suas conseqüências são nulas caso não influenciem o lugar onde tudo importa, que é o “mundo real”.
O militante satisfeito coloca uma foto de uma jovem assassinada no Irã ou algum jornalista preso no Egito na sua página do Twitter e pensa que está tudo bem, que ele fez sua parte.
Não quero dizer que a pessoa deva sair por aí formando grupos armados para tomar o poder – ainda que um dia isso possa render frutos, como a Presidência da República – mas que todo esse ativismo precisa desembocar em alguma coisa mais concreta do que os Trending topics (assuntos mais comentados do dia) no Twitter.
Os tunisianos, os egípcios, os iranianos estão aí fazendo alguma coisa. Alguma coisa real.
Os brasileiros pensam que estão fazendo algo real quando resolvem promover uma hashtag (a melhor definição que consigo pensar para hashtag é: assunto candidato à Trending topic), quando fazem sátiras aos nossos nobres políticos em blogs, no próprio Twitter, no Facebook, mas na realidade continuam a conviver com alguns dos maiores cretinos que a nossa política já produziu em postos chave da República, com as sucessivas tentativas de desqualificar o mensalão, com a impunidade.
Por isso toda vez que alguém vem me perguntar o que penso da Palestina, o que acho do Iêmen ou se estou preocupado se o Egito seguirá um modelo turco ou um modelo iraniano, eu fico tentado a perguntar:
– E o Tocantins, hein?
– E a pobreza em Duque de Caxias?
– E os custos das obras da Copa e da Olimpíada?
– E as milhões de casas que foram prometidas, mas que ninguém entregou?
– E o Sarney? Esse parente de Nosferatu que parece ser imune ao sol, água benta e a qualquer denúncia?
Mas aí o militante satisfeito torce o nariz, faz uma careta e me responde que eu sou reacionário, que minha mentalidade é pequena e que eu não enxergo além do meu horizonte.
Sabe como é, Trending topic não mata a fome, mas diverte.
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