A vinda de Barack Obama ao Brasil coincide com um dos períodos de lustro da história do país. Nunca antes, como diria Lula, o Brasil esteve em posição tão proeminente na conjuntura mundial.
Ainda que essa frase não seja totalmente precisa – já que o Brasil da Segunda Guerra Mundial foi estratégico para os aliados -, o fato é que vivemos hoje um momento especial. O tema mereceria não apenas um ou dois artigos.
Serve de consolo o fato de que não existe democracia perfeita em vigor no mundo. Mesmo nos regimes da Escandinávia existem imperfeições. Na realidade, a democracia seria um ideal a ser alcançado quase de forma utópica, inclusive nos dias de hoje.
O Brasil, por suas deficiências estruturais, ainda está caminhando lentamente rumo ao ideal democrático. A afirmação embute uma boa e uma má notícia. Mesmo a passos lentos, o rumo é claro.
Queremos democracia. Ainda que cheia de desigualdades e conceitos inconclusos do alcance do que queremos.
O ritmo é lento porque a caminhada exige adaptações e piruetas políticas dos principais power-brokers. Tudo para que não percam sua proeminência no jogo. Por exemplo, o clã Sarney apoiou sucessivamente, e com êxito, todas as grandes mudanças dos últimos cinquenta anos no país: o golpe militar, a redemocratização, a era FHC e a era Lula. Sempre em posição de mando e comando de extensões territoriais.
Inimigos de ontem são aliados íntimos hoje que podem, amanhã, romperem ou aprofundarem laços. Tamanha volatilidade explica duas marcantes características do sistema político no Brasil: a primeira é que mudamos para acomodar e nunca para radicalizar; a segunda é que as mudanças terminam sempre sendo parciais por serem de consenso.
Somos um imenso caminhão com 18 rodas e pneus com bitolas e calibragens diferentes. Andamos devagar para não virar. Felizmente, nossas contradições não impedem o país de caminhar para a frente. Atualmente, os avanços econômicos são maiores do que os políticos. A política opera com o reverso ligado. Não quer fazer reformas. Não quer reduzir direitos, alguns deles indevidos. Não quer limitar a liberdade dos políticos.
Periodicamente para acalmar os deuses da opinião pública, um ou outro aperfeiçoamento é aprovado. Como a questão do Ficha Limpa. Mas, no âmago, muda-se pouco para não ter que mudar tudo.
A economia, pelo seu lado, recompensa e pune progressos e retrocessos. Avançamos no combate à inflação, mantivemos a economia de pé em meio ao crash de 2008, apresentamos um patamar excepcional em termos de reservas.
Não estamos em uma situação melhor porque a política limita nossos avanços. Para o bem e para o mal, esse é o jeitinho brasileiro de fazer as coisas. Nem barro nem tijolo, e segue o barco.
No Brasil de hoje, nosso jeitinho continua a ser pitoresco e peculiar. Nos próximos anos, deve continuar assim. Nossa configuração ainda não comporta grandes mudanças.
Enfim, as mudanças devem ser discretas e com tempo suficiente para os players se adaptarem. É a nossa vocação para um reformismo discreto e de baixo impacto.
Fonte: Brasil Econômico, 22/03/2011
Nem barro nem tijolo, de fato isso nos remete ao Roger da VALE Agneli, vamos fazer uma vaquinha e contratar crocodilos para chorar. Realmente estou consternado, como psode o geverno só porque e socio majoritario, quer votar. ABSURDO!