O atual governo tem insistido em olhar a economia de forma estática. Solucionando parcialmente problemas apenas em 2011 estará tudo resolvido daqui para a frente. Infelizmente, a economia é dinâmica e não estática e o que o governo faz hoje tem repercussões de longo prazo, principalmente ações tomadas em inicio de governo.
O câmbio fixo no primeiro mandato de FHC levou a seu próprio ajuste no inicio do segundo mandato. O forte ajuste no primeiro mandato de Lula permitiu que se abrissem as comportas dos gastos no segundo mandato.
Vale analisar a dinâmica do governo Dilma com vistas ao que pode acontecer no inicio do próximo mandato.
Como não há percepção de que se precisa fazer um forte ajuste, dado os desequilíbrios do final do governo Lula, e também há a necessidade de ampliação dos gastos no futuro por conta de todos os projetos que são caros à presidente Dilma, a dinâmica de gastos públicos será essencialmente de crescimento robusto.
Gastos crescentes e Banco Central mais frágil devem levar à inflação também permanentemente acima da meta. Os riscos da inflação de 6% subir é grande quando existe indexação como no nosso caso.
Ao invés de insistir em baixar a meta de inflação gradualmente o governo tem flertado com a opção de inflacionar um pouco mais para não deixar de crescer. Isso é opção explícita de todo o governo, inclusive do Banco Central, e, infelizmente, isso não é uma percepção de mercado, mas uma constatação.
Isto sendo verdade, são vários desequilíbrios que estão sendo montados e que podem levar tempo para ser desarmados. Se toda a equipe econômica está coordenada em acreditar na atual trajetória de política econômica, difícil imaginar uma mudança drástica no percurso.
Ainda mais num momento em que a presidente provavelmente estará mais enfraquecida politicamente, já que não estará na lua de mel dos primeiros meses.
Isso tudo leva a crer que algum ajuste mais severo poderá acontecer só no próximo mandato, invertendo o ciclo que se iniciou com o governo Lula. Seu inicio foi exitoso, passando por desajustes no segundo mandato, que se aprofundariam no mandato de Dilma e poderiam eventualmente ser consertados no próximo governo.
O problema é o tamanho do ajuste que deverá ser feito e quem será o próximo presidente. Obviamente é muito cedo para pensar em qualquer hipótese, mas as bases de um ajuste severo pelo menos estão sendo colocadas para 2015.
O dramático disto tudo é que será entre uma Copa e uma Olimpíada, que joga ainda mais para as dificuldades de manter esse ciclo iniciado agora ao invés de fazer o ajuste nesse momento.
Lula e FHC tiveram a noção histórica e política da importância de um início de governo muito forte. Isto falta ao governo atual por uma percepção errada de que não há muito mais a fazer e o que está sendo feito infelizmente nos parece muito errado.
Cada vez mais o governo Dilma se parece com a inoperância do governo Dutra e a megalomania do governo Geisel, com os resultados desastrosos conhecidos por todos.
Fonte: Brasil Econômico, 04/04/2011
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