“Paris é como a mulher da minha vida”
Julio Cortázar
O que o Rio vai ser no futuro? Sabemos todos o que não queremos que seja: um lugar decadente como aquele em que nos tocou viver durante décadas de contínua degradação, com fuga de indústrias e de cérebros, sequestros, insegurança e instituições aviltadas. Sabemos todos também o que temos que fazer até 2016, ano das Olimpíadas. Há uma vasta lista de obras a executar, tarefas a cumprir e serviços a melhorar, nos diversos níveis de Governo.
A grande pergunta, porém, é: e depois? Passados os jogos, o que o Rio vai querer ser depois de 2016? Por isso, com André Urani organizamos o livro “Rio — A hora da virada”, com o intuito de contribuir no sentido de organizar essa reflexão. Nele, no artigo em co-autoria com Lucas Ferraz (“Uma Rio-Disney: pensando no pós-2016”), defendemos a ideia de que o Rio deveria começar a planejar intensamente as ações para o pós-2016 e que, como ingrediente desse planejamento, deveria colocar no “radar” das ações de longo prazo a perspectiva de a cidade ser a sede de um parque da Disney a ser localizado na América do Sul (uma Rio Disney).
Há três fortes razões que justificam tal postulação: I) se o país não cometer muitos erros, a economia brasileira tem boas possibilidades de ter pela frente uma década de prosperidade; II) os grandes eventos esportivos de 2014 e 2016 representarão uma oportunidade ímpar de colocar o Brasil e o Rio na vitrine do mundo, catapultando o número de turistas que poderiam passar a visitar o país a partir de então; e III) é razoável defender o argumento de que, caso o Grupo Disney pretenda um dia dar continuidade à expansão associada à instalação de seus parques fora dos EUA — casos por exemplo da Eurodisney de Paris e do parque em construção em Xangai — e decida colocar um pé na América do Sul, não parece haver melhor lugar do que o Rio para isso ocorrer, pela sua localização central no mapa, a marca do lugar e as consequências positivas que se espera ter da realização das Olimpíadas.
Em um empreendimento desse tipo, o espaço de tempo que separa o sonho inicial da sua concretização se mede em torno de uma década. Transformar uma ideia vaga em um projeto concreto, com planos e de estudos de viabilidade, toma entre um e dois anos; as negociações com o Grupo Disney implicariam, na melhor das hipóteses, entre dois e três anos; e é difícil imaginar que um parque desse porte seja construído em menos de cinco anos. Em outras palavras, estamos falando de algo que, se um dia virar realidade, estaria pronto para 2020 — ou depois. Porém, planejamento é isso: pensar dez anos à frente. O que o Rio vai ser depois de 2016 depende das iniciativas que forem tomadas até lá. Caso contrário, teremos um miniboom por cinco anos, seguido apenas de boas lembranças.
A tentativa de trazer a Disney para o Rio deveria envolver uma estratégia mista, assemelhada à dos esforços para que a cidade fosse a sede das Olimpíadas e para fazer o Porto Maravilha. A iniciativa deveria estar associada, primeiro, a uma estratégia convincente de atração do Grupo para o Brasil; segundo, a uma campanha de marketing especializado junto aos responsáveis por esse tipo de decisão; e terceiro, à formação de uma equipe, por parte das autoridades, altamente profissional e com esse tipo de expertise para negociar, com profissionalismo e paciência, os termos da vinda do Grupo ao Brasil.
A vinda da Disney coroaria o projeto de fazer do Rio uma cidade com o status que têm Nova York, Paris, Londres ou Xangai, atraindo turistas do mundo inteiro. Tom Jobim disse há décadas que “o Brasil só será feliz quando for uma grande Ipanema”. Aquele charme da “cidade que me seduz, mas onde falta água e não tem luz” se perdeu nos anos em que ganhou água e luz, mas degradou-se. Se queremos evitar que o brilho da marca se apague depois de 2016, o desafio é maiúsculo.
Sempre teremos a praia, mas no futuro o Rio tem que ser a cidade que tenha um pouco de tudo: museus, shoppings, Lapa, Maracanã, a simpatia do carioca, o centro de pesquisas da Petrobras — e uma Rio Disney. Temos que ser uma cidade global, para que o Rio seja para seus habitantes e os turistas o que Paris foi para Julio Cortázar: a representação de um estado de espírito.
Fonte: O Globo, 25/04/2011
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