O atual governo tem inovado em diversas áreas. Foi o primeiro a não mandar nenhuma medida relevante de reforma econômica para o Congresso em seus primeiros meses. Foi o primeiro a começar o mandato sem um plano claro de política econômica.
O que se viu foram remendos sem brilho de velhas medidas. E também tem inovado na velocidade das crises. Em poucos meses, Dilma já presencia ao seu redor uma crise importante, por afetar seu principal articulador político. Mas deveríamos nos preocupar muito com possíveis impactos econômicos de um agravamento da crise? Talvez não.
Primeiro, ao longo dos meses ficou claro que o Ministro Palocci não conduz a política econômica. Esta está claramente a cargo do Ministro da Fazenda, num primeiro plano, e do BC, num segundo e infelizmente distante plano. Por conta disso, não devemos esperar mudanças na polícia econômica se o pior acontecer, ou seja, o afastamento do chefe da Casa Civil.
Segundo, politicamente, o papel de Palocci é extremamente relevante dada a trajetória mais técnica da presidente. Isso tem ficado claro em seu comportamento, mais fechado do que se exige de um presidente, um cargo muito mais político do que técnico.
Uma eventual saída do ministro poderia deixar o entorno da presidente mais enfraquecido, o que significa que a capacidade de pressão do Legislativo sobre o Executivo aumenta. Mais ainda, Palocci é a contrapartida petista da presença de Michel Temer, do PMDB, no núcleo de decisão da presidente. O voto em uníssimo do PDMB a favor do Código florestal é sinônimo da força que o vice-presidente tem na agenda que será votada no Congresso Nacional.
Dado isso, e supondo o cenário mais extremo, de queda de Palocci, o que seria do governo nos próximos anos? Provavelmente, a moeda de negociação com o Congresso tenderá a exigir mais da política fiscal. A presença de um PMDB forte me parece mais demandante de aumentos maiores de gastos públicos para, como se diz, acomodar a base.
Assim, uma eventual queda do ministro não tem impacto econômico direto, mas pode trazer mais dificuldades no front fiscal por deixar Dilma mais exposta a um Congresso com demandas reprimidas de gastos.
A entrada do ex-presidente Lula nessa equação dificulta um fortalecimento mais rápido do PMDB, mas não parece impedir isso, e mesmo se Palocci não cair. Principalmente porque mostra que as credenciais políticas da presidente estão aquém de seu antecessor.
Por mais força que Lula ainda tenha, a presidente trabalhará daqui algum tempo para postular o direito de concorrer a um segundo mandato. Isso exigirá um trabalho extra para angariar o apoio do PT e do PMDB num governo que já começou com tantos desgastes. A moeda de troca fiscal parece que seguirá um curso ruim mesmo que Lula tente manter a base sob controle.
O ano de 2012 promete trazer um governo com cheiro de muito velho. As demandas fiscais em elevação serão apenas reflexos desse governo enfraquecido. E uma inflação de 6% ao ano fica cada vez mais consolidada até 2014.
Fonte: Brasil Econômico, 30/05/2011
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