Quando Barack Obama instalou-se na Casa Branca, a expectativa de seus admiradores e de seus opositores era a de que, para o bem ou para o mal, mudanças veementes iriam ocorrer nos Estados Unidos. Hoje, o sentimento entre seus eleitores é de moderação no entusiasmo, enquanto que a oposição sente-se menos atemorizada ante a iminência de reviravoltas no status quo. A vitória do Partido Republicano nas eleições parlamentares de novembro de 2010, por sua vez, aumentou a probabilidade de a veemência das mudanças sobreviver apenas no discurso.
Isso porque, na maioria dos assuntos, Obama vem revelando um pendor exagerado pela busca de consenso. Como é óbvio, esse consenso tem um preço, que é o esmaecimento das propostas da campanha eleitoral. Por exemplo: uma de suas principais promessas era não renovar a diminuição provisória de impostos sobre os mais ricos, implantada por Bush. No entanto, para obter o apoio do Partido Republicano e da ala conservadora do Democrata a um projeto de lei de natureza fiscal, acabou renovando por mais dois anos essa injustificável regalia.
Esse tipo de comportamento reflete a renúncia ao uso de seu principal capital político: o apoio popular que o conduziu ao poder. O estilo Obama de governar contrasta com a postura combativa de Franklin Roosevelt que, em 1933, assumiu a presidência em meio a uma crise econômica pior do que a de 2008 e lançou propostas quase revolucionárias. Desafiando a ira dos conservadores, Roosevelt desprezou a busca pelo consenso e enfiou goela abaixo do establishment seus ousados programas. E isso só foi possível porque ele mobilizou a opinião pública.
Por outro lado, Obama não conseguiu conferir ressonância aos êxitos que já alcançou, tais como: estabilização do sistema financeiro, recuperação da economia, reforma do sistema previdenciário, dinamização da indústria automobilística, prioridade à preservação ambiental, aumento dos investimentos em infraestrutura, ênfase aos setores de educação e desenvolvimento tecnológico e novo tratado, com a Rússia, de controle de armas nucleares. A eliminação de Bin Laden aumentou o prestígio de Obama, mas ainda é cedo para saber se favorecerá a imagem nacional de seu governo.
Como resultado da atitude introspectiva do presidente, a direita radical vem assanhadamente ocupando espaço no noticiário e os eleitores independentes que votaram no Partido Democrata nas eleições de 2008 o abandonaram nas de 2010. Enquanto isso, os seguidores fiéis do presidente estão esperando, com ansiedade, o retorno daquele Obama dos tempos da campanha eleitoral presidencial, que arrebatou entusiasmo nos Estados Unidos e em outras partes do planeta.
Fonte: O Globo, 07/06/2011
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