O repórter Pedro Venceslau trouxe ontem aos leitores do “Brasil Econômico” uma entrevista com Cecília Coimbra, presidente da organização não governamental Tortura Nunca Mais, cujo título resume o sentimento que muitas pessoas que viveram os anos de chumbo da história brasileira tiveram ao saber que a presidente da República, Dilma Rousseff, se mostra disposta a manter sigilosos documentos relacionados à segurança nacional do país: “Algumas pessoas se esquecem do passado quando chegam ao poder”.
O passado de Dilma, assim como o de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, foi determinante para a eleição de ambos ao cargo de chefe da nação. Foi com base nas posições e atitudes pretéritas dos dois que milhões de brasileiros lhes deram seu voto de confiança.
Sua luta contra a ditadura militar teve grande influência na predileção do eleitorado. Pelo menos em respeito a isso, espera-se que Dilma honre o que se espera dela.
Afinal, o que há de tão grave nesses documentos para que nem o padre eterno possa ter conhecimento de seu teor? Qual é a cláusula de confidencialidade que impede os brasileiros de conhecer o que, de fato, ocorreu no país? Com quem foi assinada essa cláusula?
Não se trata de um acerto de contas revanchista, à procura de nomes que expiem a culpa de militares e civis que serviram ao antigo regime, mas de não repetir aquilo que tanto se criticou quando se estava do outro lado do muro.
A população precisa conhecer a verdadeira história do país onde mora. É dessa forma que aprenderemos com nossos erros. Negar essa oportunidade à sociedade é fornecer mais argumentos a quem acredita que, uma vez governo, todos se igualam – ou se nivelam por baixo.
Contraria os princípios democráticos defendidos com tanto ardor pelas mesmas pessoas que denunciavam o Estado quando este lhes subtraía esse tão comezinho direito.
A grandeza de uma nação não se faz somente com bons indicadores econômicos. A maior parte dos países latino-americanos viveu períodos de pseudodesenvolvimento enquanto era administrada por juntas militares.
Justamente por não se saber direito o que se fazia tanto nos salões do poder quanto nos porões nos quais se torturava quem se insurgia contra a ordem unida fortificou-se o desejo coletivo de mudar.
Como explicar aos jovens que ser honesto vale a pena se não exercemos essa virtude plenamente? Como exigir que os candidatos a qualquer cargo público tenham ficha limpa se as próprias fichas eivadas dos arquivos oficiais só estão disponíveis a poucos e, quando podem se tornar públicas, continuam sob o manto de um sigilo inaceitável?
Fonte: Brasil Econômico, 16/06/2011
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