Aos poucos, o grande público vai tendo notícias do tamanho do buraco financeiro europeu. É mais uma crise dentro da crise. A chamada Grande Recessão ainda vai se desenrolar ao longo da presente década, em episódios sucessivos de destruição de riqueza aparente.
E o Brasil, hoje na ponta bem-sucedida, esnobando investidores externos, como fez nosso ministro Guido Mantega, em recente passagem por Londres, deve estar preparado para mudar de lado na mesa, caso continuemos cegos aos apelos de uma mudança fiscal séria e profunda no país.
Mas a conversa ainda é sobre o episódio grego e suas ramificações com o resto do clube da azeitona, como apelidamos, com bom humor, apesar da gravidade da crise, os demais países afetados, Portugal, Espanha e, talvez, a Itália.
Escrevo num trem rumo a Zurich, na Suíça, enquanto repasso as notícias dos últimos rebaixamentos de notas de rating atribuídos a esses países. As agências internacionais, mais uma vez, chegam atrasadas na narrativa do seu gol contra.
Uma delas acaba de rebaixar a qualidade do risco de crédito de Portugal em quatro níveis, de uma só tacada. Estas notas de rating não foram concebidas para rebaixamentos bruscos, muito menos em cima do fato consumado do aperto financeiro.
No rebaixamento brusco da nota se revela o desconhecimento total do analista, como ocorreu com a Grécia, que caiu de um nível A+, risco considerado bastante baixo – cinco degraus acima da qualidade de crédito do Brasil hoje – para uma nota de default próximo.
A grande verdade por trás desse novo episódio é quão mal a grande maioria dos especialistas internacionais conhece, de fato, as condições macroeconômicas do país analisado.
Novas projeções de bancos para a dívida pública ainda não renegociada desses países em 2014 revelam um tamanho de 180%, em relação ao PIB, na Grécia, de 135% em Portugal e de 90% na Espanha.
Desconfio serem sub-estimativas. Logo, sem chance de se evitada uma reestruturação quase em cadeia; daí à beira do ataque de nervos em que estão, no momento, os bancos credores, franceses e alemães, principalmente.
A pergunta que não quer calar é por que as agências de rating davam elevações de notas aos países enquanto estes mais se endividavam? A Grécia, no caso, com sua Olimpíada caríssima.
A resposta curta, no caso europeu, é que se pensava haver esses devedores entrado no céu, devendo em euros, sob o guarda-chuva da moeda e do banco central comuns.
Agora, esta hipótese, com a qual os mercados conviveram e que as agências endossaram, passa por seu teste de realidade. Não impedirá o recorte do valor das dívidas soberanas, cujo penoso processo de discussão apenas começou.
Em alguns casos, estimo que esse recorte não seja inferior à metade do valor atual, talvez mais, aproximando-se do referencial argentino, que ainda causa horror aos credores afetados. Continuamos teimando em aventar o pós-crise.
Não há, nunca houve, o fim da crise. E os planos dos governos ainda não envolvidos, bem como as análises de rating e outras supostas avaliações educadas, devem aprender a respeitar mais os cenários que alguns alegres comentaristas chamam de “pessimistas”.
Fonte: Brasil Econômico, 08/07/2011
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