A decisão da Justiça de condená-lo a três anos de prisão por supostamente ter caluniado o presidente do Equador, Rafael Correa, não surpreendeu – mas assustou. Em entrevista ao “GLOBO”, o jornalista Emilio Palacio assegurou que recorrerá e, caso os tribunais insistam na sentença, avaliará a possibilidade de fugir do país. Para Palacio, que desde 2007 é atacado publicamente pelo presidente e chegou a ser expulso do Palácio Carondelet, a medida afeta todos os meios de comunicação, “que já começaram a se autocensurar para evitar este tipo de perseguição”
O Globo: O senhor ficou surpreso com a decisão da Justiça?
Emilio Palacio: Não, neste país nada me surpreende. Toda a situação que vivemos ontem (anteontem) foi absurda. Soldados dentro e fora do prédio, com fuzis e bombas de gás lacrimogêneo. Foi uma loucura. Não sei o que o governo estava pensando, mas realmente é impossível que um juiz possa atuar de forma independente nesse contexto. O governo buscou assustar a Justiça, e conseguiu.
O Globo: Trata-se de uma sentença em tempo recorde…
Palacio: Um recorde que deveria ser incluído no livro Guiness. Seis juízes já passaram por este processo, e o último, Juan Paredes, demorou apenas 33 horas para assumir o caso, realizar a audiência, estudar os autos de cinco mil páginas e escrever uma sentença de 156 laudas.
O Globo: Seus direitos como acusado foram respeitados?
Palacio: Não. Um dos juízes me proibiu de apresentar provas alegando que minhas provas não eram pertinentes. Isso é outro absurdo, outro atropelo à liberdade de expressão.
O Globo: Como a sentença afeta os meios de comunicação equatorianos?
Palacio: Todos estão assustados e já começaram a se autocensurar para evitar este tipo de perseguição, que é o que Correa queria. O futuro dos jornalistas não depende mais do que digam ou escrevam, e sim de quantos soldados o governo mandará às audiências judiciais.
O Globo: Por quanto tempo o senhor poderá estar em liberdade?
Palacio: No Equador não há prisão preventiva, e o processo terá quatro instâncias. Essa foi a primeira. Vamos apelar e pedir a anulação, e enquanto isso, continuamos livres. Se na quarta instância a Justiça confirmar a condenação, nesse momento serei preso, a menos que decida fugir do país.
O Globo: Essa possibilidade está em seus planos?
Palacio: Às vezes, as pessoas devem sair correndo. Muitos lutadores pela democracia fizeram isso. Não vejo porque descartar a possibilidade, estamos vivendo uma situação crítica.
O Globo: O senhor tem como pagar a indenização exigida por Correa?
Palacio: Não, de forma alguma. Mas eles poderão confiscar minha casa e meus dois carros. Isso é o que fazem as ditaduras.
Fonte: O Globo, 21/07/2011
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