Perplexo, para não dizer estarrecido, eu também fiquei boquiaberto com o que ocorreu, ou teria ocorrido ou estava por acontecer na área do Ministério dos Transportes.
As matérias estampadas eram de suma gravidade, e na medida em que fossem confirmadas, as pessoas envolvidas estariam em maus lençóis. Mas havia mais. Os fatos narrados, em sua constrangedora imprudência, não haviam chegado ao conhecimento da nação, nem da própria senhora presidente da República, suponho eu, por intermédio dos serviços oficiais especializados, mas por órgãos da imprensa, de resto, da maior importância e autoridade jornalística – a “Veja”, “O Globo”, ‘O Estado de S. Paulo”, a “Folha de S. Paulo”. A pergunta que me fiz então e volto a fazer-me é se para serem conhecidas do governo, insignes mazelas, necessitam da interferência saneadora da imprensa. Diante do fato, em sua serena objetividade, um espírito um tanto sarcástico não seria levado a propor a contratação de órgãos da imprensa ou de jornalistas selecionados, para fazerem o que a administração não tem feito; pelo menos para que a senhora presidente tenha notícias do que se passa em segmentos da alta administração? Sem ter de aguardar graciosa colaboração da imprensa. Não quero tirar conclusões, mas uma coisa me parece incontestável: alguma coisa não está funcionando, e não está porque não tem feito o que a imprensa tem sido capaz de fazer, sem ter poder estatal. Este é o fato, público, desenrolado aos olhos da nação. Exagero na minha análise?
Ainda que haja imprensa que preste ao governo, gratuitamente, essa valiosa contribuição, não pense o leitor que esteja eu a pilheriar com assunto tão relevante, mas acrescento, os serviços do Estado têm de ser, em relação à administração federal, melhores que as investigações jornalísticas. É claro que a senhora presidente, neste maldito regime presidencial, não pode dedicar-se a coletar informações, nem lhe cabe fazê-lo. Suas atribuições são outras (no momento em que escrevo li em uma de nossas folhas que no sétimo mês de seu governo a chefe do governo recebeu em audiência, pela primeira vez, um ministro de Estado!).
Ela não pode ocupar-se desses assuntos, como não tem de examinar a limpeza de sua sala de trabalho. A questão não é de somenos. Pode não ser brilhante, mas é de fundamental utilidade. Se ela não contar com colaboradores capazes, cuide de sanar a falha. A presidente necessita estar ciente e bem ciente do que se passa sob os tapetes do Palácio do Planalto e alhures.
O fato é que, em dias, e a partir do registro dos jornais, não digo que tenha passado a fazer a limpeza no Ministério em causa, mas o notório é que passou a funcionar a guilhotina sob seu império. Quantas cabeças rolaram sob o ímpeto robespierriano da amável senhora presidente? Dezoito, entre demitidos e afastados.
A um observador distante esse procedimento ou esse dado concreto significa que ela levou a sério as matérias jornalísticas publicadas. Laus Deo! Não há demérito nisso, demérito haveria se ela fizesse ouvidos de mercador e não agisse no sentido de suprimir suas causas, como fazia seu antecessor.
Sem informações privilegiadas, concluo com os elementos que tenho à vista. Imagino que, por motivos vários, ela teve de superar alguns óbices. O ex-presidente da República, por exemplo, observou que ela poderia perder “sua base de sustentação” e, não obstante, não se intimidou e “apesar de queixas dos aliados” “sempre que surgirem denúncias relevantes” e, enquanto contar com a opinião pública a seu favor, manterá seu estilo de agir. Ou seja, se o Ministério fora outorgado de “porteira fechada”, deixou de ser para exploração privada de partido. Não deixa de ser uma novidade. E até que enfim, boa novidade.
Fonte: Zero Hora, 25/07/2011
Caro escritor,você não exagerou em sua análise!Continue expondo suas críticas! A presidente Dilma tem que fiscalizar melhor o trabalho de sua equipe!