O que esses dois países têm em conjunto que possa nos interessar? Basicamente, uma mistura de política econômica ineficaz que gera apenas inflação e um processo precário de crescimento de curto prazo.
Usamos os exemplos desses países porque parecem ser dois casos notórios de países que tentam crescer a qualquer custo, independentemente dos riscos, e chamamos de risco aqui a inflação.
A Turquia passou por reformas no começo da década passada que levaram a crescimento econômico e estabilização da inflação.
Algo num grau menor do que o Plano Real aqui implementado em 94. Mas o Banco Central turco sempre teve dificuldade em lidar com as expectativas inflacionárias.
Apenas agora a meta de inflação foi ajustada para 5,5% em 2011, depois de se estabelecer uma meta de 7,5% em 2009.
Ao mesmo tempo, o governo insiste em manter um padrão forte de crescimento, com expansão esperada do Produto Interno Bruto (PIB) este ano de 7,2%. Obviamente, essa combinação de inflação elevada e crescimento forte é corroborada por uma taxa de juros talvez excessivamente baixa.
A taxa básica de juros no país está em 6,25%. Apesar dos prognósticos de elevação, parece muito baixa para conseguir trazer a inflação de 6% hoje para baixo e muitos analistas estimam uma inflação de 8% para o ano que vem.
A Argentina é um caso piorado. Tem uma turbulência institucional mais grave ainda com um superpresidencialismo focado na figura da presidente Kirchner, que tem tudo para ser a vencedora da eleição em outubro.
O caso argentino é um misto de controle cambial, com políticas monetária e fiscal extremamente frouxas. O resultado é um crescimento que vai ficar acima de 8% este ano, mas às custas de inflação estimada em mais de 20%.
A sorte, se podemos dizer algo como isso sobre a Argentina, é que a soja tem sido a salvadora do país nos últimos anos, evitando que se tenha uma crise de balanço de pagamentos nos moldes tradicionais que sempre atingiu os países da América Latina.
Num mundo tão conturbado, os desajustes de Turquia e Argentina ficam minimizados e surgem como válvulas de escape para um mundo que está em dificuldades de crescer. Seria como conceder que essas políticas, mesmo erradas, possam acontecer porque permitem que esses países continuem crescendo nesse momento.
Há espaço de política econômica de curto prazo para estimular o crescimento já que a inflação deixa de ser o foco do FMI, por exemplo. Seu foco agora é o problema fiscal de Europa e EUA.
Ao mesmo tempo, isso tudo parece ser uma justificativa internacional para o Brasil seguir políticas de crescimento que permitam alguma inflação. É como se houvesse corroboração agora para países que conseguem fazer suas economias crescerem com pequenos desajustes, num mundo de grandes desajustes fiscais como nos países desenvolvidos.
O risco é que os desajustes desses países emergentes fiquem exacerbados, através do uso de políticas de curto prazo cada vez mais expansionistas.
Estamos agora entrando nessa fase novamente, com juros anunciados que vão cair e política fiscal gritando para se expandir em 2012.
Fonte: Brasil Econômico, 22/08/2011
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