A essa altura já está mais do que claro que a continuidade de medidas paliativas na Europa vai apenas adiar as possíveis soluções finais para a crise do euro. Mais ainda, o cenário parece ser cada vez mais provável de continuidade do euro, mas o preço a pagar será formidável. Consigo ver dois arranjos para essa continuidade da moeda única.
Uma primeira solução seria a saída da Alemanha do arranjo monetário.
Agora em setembro teremos a decisão da Justiça alemã sobre a constitucionalidade de continuar mantendo os pacotes de ajuda à zona do euro. Caso o Judiciário alemão decida negativamente sobre o assunto, pode ser um primeiro passo para um adeus alemão ao euro.
Essa decisão não é de todo ruim. Pelo contrário, ao sair do euro, os países do sul europeu seriam mantidos na moeda única, agora apenas sem a Alemanha.
Sem esse país âncora, é provável que a nova moeda sofresse uma vertiginosa depreciação, lembrando que o país mais relevante nessa nova configuração agora seria a França, digamos que um país menos crível economicamente que o vizinho alemão.
Essa depreciação poderia ser uma porta de saída de crescimento para Grécia e companhia ao mesmo tempo em que evita a maciça transferência de recursos que os alemães teriam que fazer para seus vizinhos.
Pode ser colocado que a Alemanha de volta ao Deutsch Mark seria prejudicial para o próprio país porque grande parte de seu mercado exportador é a própria Europa e as fábricas alemãs consomem insumos geralmente produzidos nos vizinhos dentro do euro. Saídas para isso seriam aumentar a produtividade via reformas trabalhistas, por exemplo, nos moldes do que ela já fez em 2005.
Um momento de crise poderia acelerar esse tipo de mudança lembrando que os recursos que seriam gastos com o sul europeu seriam economizados para dar mais força fiscal à Alemanha.
No final, câmbio apreciado nunca foi um grande problema para a máquina produtiva daquele país. Não é o final total de um sonho europeu, mas livra a Alemanha de um encargo demasiado elevado.
A outra solução é manter o euro e tentar soluções mais profundas, como a unificação fiscal, através de eurobonds.
Em qualquer configuração que saia dessa manutenção, me parece que a necessidade de um ajuste fiscal intenso não apenas permanece, mas levará os países em dificuldade a uma desaceleração de crescimento longa e dolorosa.
Quanto tempo Grécia, Portugal e outros aguentariam o ajuste fiscal necessário? A política monetária de estimulo que poderia ser usada me parece insuficiente como contraponto. E nisso a Alemanha seguirá empobrecendo ao continuar tendo que sustentar os vizinhos mais pobres.
No final, a continuidade do euro significa seus membros abraçados a uma pedra que afunda no Mediterrâneo. Não me parece que Brady Bonds, eurobonds ou qualquer traquitana do gênero consigam solucionar o problema de crescimento de longo prazo desses países.
Manter o euro significará um período forte de declínio e possíveis manifestações populares mais graves, algo com que a Europa já tem bastante experiência por sinal.
Fonte: Brasil Econômico, 29/08/2011
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