O governo resolveu começar o segundo semestre dando vários cavalos de pau na economia. Aqui a figura do cavalo de pau é mais do que adequada dadas as medidas protecionistas que foram lançadas para o setor automobilístico.
O governo descobriu uma brincadeira chamada índice de nacionalização, na época da discussão das novas regras do pré-sal, e agora quer utilizar em outros segmentos. Vai dar certo? Provavelmente não.
As medidas consideram um índice de nacionalização de 65% do carro nacional e um IPI de 30% para quem não se enquadrar na regra. Mas 65% das peças nacionais não quer dizer que as peças que fazem as peças sejam nacionais.
No limite, o carro poderia ser todo importado, sendo apenas montadas as peças aqui dentro para atingir o limite de 65%.
Considerando que muitos dos componentes importados são de tecnologia de ponta, as autopeças poderão importar todos os componentes e montar a peça aqui, transformando o setor numa grande Zona Franca de Manaus.
As indústrias de autopeça que estavam se transformando em importadoras passam a ser montadoras de componentes importados. Não me parece um resultado razoável. Basicamente porque para garantir o limite de 65% o governo deveria ter informações de toda a cadeia do segmento até o início de cada etapa de produção de cada insumo, o que é absolutamente inviável.
Fazer a autopeça montada aqui ao invés de ser importada apenas vai adicionar mais custo ao setor.
O produto final provavelmente será mais caro do que o importado por mais essa etapa adicionada à cadeia de produção.
Ou seja, o preço do carro nacional será mais caro não apenas porque os importados em si ficarão mais caros, mas basicamente porque o produto doméstico dependerá de componentes que não sofrerão competição externa no limite.
Parece que o governo tem saudades da política de informática dos anos 80, que destruiu a capacidade de inovação no país naquela década.
Aliás, muitos dos integrantes do governo são pais das medidas que foram feitas lá atrás.
O preço dos carros é um dos únicos elementos que estava ajudando o IPCA. Nem isso teremos mais para amainar a esticada de preços em serviços, monitorados e alimentos.
Mas não são apenas os preços que serão maiores. A qualidade dos carros cairá sensivelmente com o tempo. Essa história de garantia de que o setor inovará é a mesma que valia para a informática e deu no que deu.
Estou dizendo que estamos reeditando a política de informática? Não, mas é fato que mais preço e menor qualidade implicarão fuga de diversas montadoras que tinham interesse em produzir no Brasil futuramente.
Ao fazer esse tipo de política o governo parece imaginar que uma montadora viveria eternamente apenas importando carros, sem querer produzir aqui, o que é desmentido pelas próprias chinesas que estão montando suas fábricas aqui.
Custa caro trazer carro da China e fica mais barato produzir para ganhar escala aqui.
No fim, aumentará em muito a importação de carros da Argentina e do México. Com a medida, o governo fez um grande estímulo para as indústrias desses países e prestou um desserviço ao consumidor nacional.
Fonte: Brasil Econômico, 19/09/2011
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