“À medida que aumenta a complexidade da tecnologia, também cresce a demanda pela força básica da Apple de tornar compreensível para meros mortais recursos tecnológicos muito complexos.”
A declaração consta de uma entrevista concedida por Steve Jobs em 2003 ao jornal americano “The New York Times” e resume por que a empresa criada por ele faz tanto sucesso: simplicidade.
A Apple democratizou o uso do computador e de uma série de engenhocas ligadas ao entretenimento ao facilitar a maneira de usá-los. Além disso, seus produtos funcionam bem, são práticos, bonitos e vendem como água, apesar de serem mais caros que os dos concorrentes.
O princípio da simplicidade de Steve Jobs e de sua incensada companhia deveria servir de exemplo para todo o mundo corporativo e para as repartições públicas.
Se foi possível inventar um aparelhinho com menos de 10 centímetros de altura que armazena mais de mil músicas e só possui um botão com três funções (ligar, desligar e pular as músicas), por que as nossas relações comerciais e com o Estado não podem ser simplificadas também?
Ora, direis: “Nem todas as empresas produzem tocadores de música, tampouco o Estado”. Certo, mas por que não fazer como Jobs, encurralar a complexidade para dentro do aparelho e deixar do lado de fora algo fácil de entender, sem que seja necessário ser um dos fanáticos clientes da Apple?
Meu pai tem quase 90 anos de idade. Recebe uma aposentadoria por ter trabalhado no Brasil e uma pensão da Itália por ter combatido na II Guerra Mundial. Apesar de estar bastante lúcido para sua faixa etária, não conseguiria receber seu parco dinheirinho no começo do mês sem a ajuda dos filhos, tamanha a burocracia dos governos brasileiro e italiano e tamanha a quantidade de senhas exigida pelo banco onde tem conta corrente.
Multiplique-se o problema para milhares de aposentados e calcule-se quanto todos perdem.
Jobs tinha suas idiossincrasias. Afinal, apesar de sua genialidade, era um mero mortal como as pessoas a quem se dedicava a descomplicar a tecnologia – e ganhava dinheiro com isso (qual o pecado?). Mas a forma como incentivava seus funcionários a criar, produzir, cumprir metas e prazos difere da empregada na maioria das empresas.
Quantos de nós, gestores, têm coragem de aceitar discutir opiniões divergentes das nossas, de assumir nossos fracassos e compartilhar, de verdade, nosso sucesso com a equipe que nos ajudou a conquistá-lo?
Quantos de nós aplicam princípios democráticos no dia a dia das organizações? Não precisamos tutelar nossos subordinados, mas dar-lhes liberdade de trabalho e condições adequadas para exercê-lo. Provavelmente, não será necessário cobrar resultados, pois eles aparecerão de forma mais natural.
Fonte: Brasil Econômico, 10/10/2011
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