Um diagnóstico de câncer, por menos agressivo que seja o tumor e por mais inicial que seja o estágio da doença, nunca é bem recebido. Todos os assuntos que fazem parte da rotina da pessoa perdem importância e a busca da solução para o problema torna-se a preocupação exclusiva.
Portanto, seria até desumano querer falar agora do momento político do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Até que o tumor desapareça e que venha a notícia da cura, Lula ficará voltado apenas para a própria saúde. Todo o resto, inclusive as articulações com vistas às eleições do ano que vem, perderá importância.
Tem que ser assim. Ponto final. Seja como for, não deve existir um único brasileiro que, após a divulgação do diagnóstico no último fim de semana, não tenha pensado no futuro da política brasileira caso o ex-presidente tenha que se afastar da cena política e abandone as articulações políticas.
Se existe um ponto sobre o qual não cabe discussão é o de que Lula criou em torno de si uma imagem muito mais positiva do que a de seu partido – e que a legenda perde boa parte da força quando ele não está por perto.
O PT é uma máquina eleitoral formidável – com ramificações em todos os municípios brasileiros. Além disso, conta com a fidelidade inquestionável de um grupo de pessoas que ligaram suas vidas ao partido de tal maneira que, não é errado dizer, devem a ele até mesmo os empregos que têm.
Sim. Mais do que qualquer outra agremiação na história do Brasil, o PT sempre demonstrou habilidade na hora de ocupar espaço na administração pública. Sempre que conquistou uma prefeitura, um governo estadual ou mesmo o governo federal pelo voto legítimo dos eleitores, se entranhou na máquina pública a ponto de se confundir com ela.
Essa característica, que no passado era vista como parte da força da legenda, com o tempo acabou tirando parte de seu entusiasmo.
No ano que vem, completam-se 30 anos da primeira disputa eleitoral do PT. Em 1982, milhares de jovens foram às ruas de bandeira em punho para defender os candidatos do partido e, diante dos resultados modestos obtidos pela legenda nas urnas, concluíram, pelas palavras do cartunista Henfil, que “valeu a intenção da semente”.
Por qualquer ponto que se olhe, o Brasil de hoje é completamente diferente do que existia em 1982, quando o PT disputou sua primeira eleição, ao lado do PMDB, PTB, PDT e PDS. Dos líderes políticos que conduziram a disputa naquele momento, Lula é o único que permanece na ativa maior do que era.
Hoje, aqueles jovens da primeira eleição são senhoras e senhores de 50 e poucos anos, muitos deles funcionários bem colocados na burocracia em Brasília e em muitos outros pontos do país. E o partido, que nasceu para ser diferente dos outros, acabou se igualando aos demais, a ponto de perder até mesmo o direito de abanar a bandeira da honestidade – e de acusar todos os demais de corrupção.
O PT, que não soube se renovar, e tem como seu maior trunfo eleitoral a figura do presidente mais popular da história. No mais, é um partido muito parecido com os outros.
Fonte: Brasil Econômico, 01/11/2011
No Comment! Be the first one.