Pode parecer pouco, mas se a presidente Dilma Rousseff levar adiante a intenção de ajudar o FMI a financiar a recuperação da Europa, conforme anunciou ontem em Cannes, na França, dará uma prova de que o Brasil realmente vive um momento especial.
A possibilidade foi levantada durante o encontro do G20, o grupo que reúne os 20 países mais ricos do mundo. A prova de força não está apenas no anúncio da possibilidade de aumento dos recursos que o país repassa ao Fundo. Está, também, na decisão política de ajudar um grupo de países que até outro dia olhavam feio para o Brasil.
Não nos esqueçamos que há menos de duas décadas, quando o governo ainda sofria com uma dívida externa que parecia impagável, o último organismo internacional a fechar um acordo com o Brasil foi o Clube de Paris. Trata-se de uma organização informal de governos ricos (não apenas europeus) que emprestavam dinheiro diretamente aos países antigamente conhecidos como “Terceiro Mundo”, hoje chamados de “emergentes”. Agora, são esses governos que necessitam de ajuda, e o Brasil se oferece para ajudá-los.
Além do simbolismo, o gesto chama atenção pela autoridade do discurso da presidente. Uma face da moeda é o mandatário de um país com a economia em frangalhos abrir a boca e se queixar que o remédio prescrito pelos organismos internacionais aos países em dificuldade é excessivamente amargo.
E que a restrição exagerada de gastos, além de não significar a garantia de solução dos problemas, pode, ao contrário, aumentar as dificuldades – como a presidente já disse em mais de uma ocasião.
Concorde-se ou não com esse ponto de vista (que é, de fato, pouco usual), o certo é que ele tem mais chances de ser ouvido quando defendido, como é o caso de Dilma, por um chefe de Estado que não pede, mas oferece ajuda. O Brasil recomenda para o mundo o remédio que ele mesmo utilizou para impedir que a crise de 2008 batesse forte em sua economia – este é o outro lado da história.
Manter os investimentos não foi a única causa do bom desempenho da economia brasileira num momento em que o mundo inteiro estava no limiar de uma recessão. O fato de ser um grande produtor de commodities quando a Ásia demandava minério de ferro e soja em quantidades enormes também foi uma barreira importante. Some-se a isso o fato de o Brasil ter um sistema financeiro sólido e livre de créditos malucos, como as hipotecas fajutas do subprime. Se não fosse isso, talvez a aceleração dos investimentos não tivesse produzido os mesmos efeitos.
O Brasil vive, sim, um bom momento. Mas não é o melhor dos mundos. Aqui e ali já começam a surgir sinais de que os próximos anos talvez não registrem uma expansão tão forte quanto se esperava.
Providências que deixaram de ser tomadas pelo Executivo e pelo Legislativo (sobretudo no que diz respeito à segurança jurídica dos investimentos) já começam a cansar algumas empresas, e isso talvez tire do país projetos que já estavam programados. O Brasil está, sim, em condições de emitir sua opinião e de ser ouvido pelos países desenvolvidos. Mas também tem muito a escutar e a aprender com eles.
Fonte: Brasil Econômico, 04/11/2011
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