Nada abala os compradores para as festas de fim de ano. As pesquisas recentes realizadas para tomar o pulso do mercado, relativas às tendências de compras de presentes e componentes de festas, de bebidas a roupas, passando por itens mais sofisticados, dão conta de que o consumidor brasileiro está encarando com otimismo os meses vindouros.
Mesmo associando a temores de que a onda internacional venha a bater na solidez atual da economia nacional, contabiliza-se o entendimento de que os meses entre novembro e fevereiro, já por influência do carnaval, responderão positivamente às expectativas do setor comercial.
O consumo doméstico atinge hoje no Brasil níveis impensáveis há poucos anos, devido à agregação de milhões de pessoas a patamares financeiros mais altos, expandindo as vendas de todos os tipos de produtos. A antiga distância dos bens de consumo mais comuns, a necessidade inadiável de se igualar ao parente que já chegou “lá” ou a simples indulgência formam um conjunto de indutores às compras difícil de controlar.
A expansão de crédito, que no Brasil nos últimos anos ultrapassou percentuais recomendáveis pelo bom-senso e pelas leis econômicas mais cuidadosas, mas com apelo político de grande alcance, também tem sido uma ferramenta importante na expansão do consumo. As recentes medidas oficiais reduzindo prazos ou condições — principalmente para veículos — em nada perturbou o caminho das compras.
A próxima temporada de festas está garantida. Mais empregos temporários serão gerados, mais geladeiras e TVs usadas serão trocadas por modelos mais chiques, mais jogos eletrônicos encherão os pesados sacos do Papai Noel, e as alegrias do Natal serão “embaladas” por presentes cada vez mais bonitos.
Notícias recentes dão conta de uma expressiva redução da atividade industrial, principalmente no setor automobilístico. Nada surpreendente vistos os números da produção no primeiro semestre, que sinalizavam recordes inacreditáveis. É claro que a onda comprista, suportada por razões das mais diversas, tenderá a reduzir sua velocidade se os humores internacionais saírem das manchetes e chegarem ao chão das fábricas. Os compradores por “impulso” tendem a se controlar, apenas, quando não conseguem honrar seus compromissos e tremerem com as cobranças e o tamanho dos juros. Até lá continuam a se satisfazer com a afirmação do seu poder aquisitivo.
A sociedade brasileira, entretanto, há de encontrar rapidamente um meio termo, mais moderno e útil. Necessita de mais cuidado, de olho no futuro, substituindo, pelo menos em parte, a emocionante satisfação da comprar por uma visão de poupança cuidadosa que permita ao país um colchão de recursos para seu crescimento e às pessoas um alento para o “mais tarde”, para o momento de menos renda e necessário repouso.
Fonte: O Globo, 09/11/2011
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