No mundo, o ensino médio é sinônimo de diversificação: em nenhum caso há, como aqui, a decisão de uma educação igual, geral e obrigatória para todos
O secretário da Educação de São Paulo propõe reduzir a carga horária de matemática e língua portuguesa no ensino médio para dar mais opções aos alunos, inclusive algumas horas de ensino profissionalizante. O governador ouve o clamor popular e reage.
No Brasil, sempre que as políticas públicas chegam perto da classe média, a reação é imediata. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ocupa cem vezes mais espaço na mídia do que o descalabro da alfabetização das crianças.
Quando se trata de educação, ainda vivemos na Belíndia. Qual o problema? Diagnóstico errado e, consequentemente, receita inadequada: ensino médio igual para todos, avaliado pelo Enem.
Erram, portanto, o secretário, o governador e as autoridades educacionais em todo o país, sob o argumento de que todos devem ter a chance de fazer o vestibular. Para enfrentar o vestibular -ainda sob o mesmo raciocínio-, é preciso uma determinada carga horária de algo indefinido, que no Brasil se chama de “educação geral” e que, na prática, se concretiza em horas-aula de certas disciplinas obrigatórias.
Por trás dessa avaliação residem vários outros equívocos e contradições. Um deles é o preconceito contra tudo que é educação profissional -ensino que, sob tal concepção, é, no máximo, uma concessão, umas horinhas a mais no sacrossanto currículo acadêmico.
A contradição é querer que escolas acadêmicas, que têm horror e nenhum talento para cuidar de coisas práticas, também ofereçam educação profissional -um desatino já cometido no Brasil, mas que ainda não foi aprendido.
Onde estão os “benchmarks”? O que fazem todos os outros países desenvolvidos e emergentes? Diversificam o ensino médio.
A diversificação se dá tanto em termos de opções de cursos quanto de instituições diferenciadas. Há várias soluções. No ensino acadêmico, geralmente há opções de intensidade e variedade de disciplinas; em nenhum país o aluno é avaliado em mais de sete disciplinas.
No ensino profissional, há várias escolhas, inclusive opções terminais e cursos profissionais que dão acesso ao ensino superior.
As mais de 7.000 “carreer academies” nos Estados Unidos oferecem modalidades inovadoras para os desafios do mundo do trabalho. O “smorgasbord” de 75 cursos opcionais oferecidos na Finlândia ainda está em estágio experimental.
Mas em nenhum caso há, como no Brasil, a decisão de uma educação geral, igual e obrigatória para todos, a ideia de cursos complementares (acadêmico pela manhã e profissional à tarde) e muito menos um Enem igual para todos, condicionando a uniformização curricular.
No mundo, ensino médio é sinônimo de diversificação.
Se a experiência internacional sobre o que funciona no ensino médio fosse conhecida e debatida com seriedade no Brasil, o secretário e o governador de São Paulo, Estado que possui a maior e mais bem-sucedida rede de ensino médio profissional, poderiam ampliar o que já oferecem de bom, diversificar ainda mais essa etapa de ensino profissional, especialmente na área de serviços, e oferecer uma esperança à juventude brasileira.
O ensino médio continua, portanto, em busca de solução. Seu formato atual não é aderente à realidade do país e do mercado de trabalho. Os jovens estão desestimulados e sem opção; o mercado está desatendido. Do governo federal e do MEC, depois de nove anos, não há mais o que esperar de avanço nessa área. Será que de São Paulo também não?
Fonte: Folha de S. Paulo, 29/11/2011
Essa avalanche de equívocos e contradições enfeixam , a meu ver, dois tópicos essencais : – A falta do necessário apetite político para enfrentar o problema educacional do país como uma verdadeira Revolução, não a das armas.
– Esta distorção cultural leva a mirabolâncias demagógicas, pretendendo apresentar o lado mais luzidio do ensino médio e da universidade, “esquecendo” a fundamental alfabetização básica, aquela da primeira infância e que não dá tanto…