O mercado tem ficado otimista, desde a semana passada, a respeito do futuro do euro, enquanto os experts se desdobram para explicar porque nem a moeda nem a comunidade europeias sobreviverão ao abalo de sua credibilidade.
Qual das duas visões está mais próxima à realidade? Compro a tese de que “ruim com o euro, muito pior sem ele”.
Portanto, estou muito mais com o mercado do que com os especialistas, embora reconhecendo – aliás, com bastante antecedência, nesta coluna – as notórias fragilidades do atual arranjo político-institucional europeu.
Com um adendo importante: nada do que os especialistas resolveram enxergar agora é coisa nova ou surpreendente.
Já nos anos 90, Milton Friedman, grande mestre que tive, apontava a fragilidade do lado fiscal da União Europeia, por faltar um instrumento de ação rápida para garantir o controle efetivo dos déficits de cada país-membro. A punição para os gastadores nunca foi levada a sério.
O grupo de países sempre bancou quem mais conseguisse inchar sua despesa pública, se possível com empréstimos e verbas da própria Comunidade. O Brasil antecedente à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) também funcionava do mesmo jeito.
Foi preciso passar pela bancarrota financeira para o Congresso pactuar um comportamento fiscal menos irresponsável por parte dos entes públicos. Estados e municípios, do alto de sua falsa soberania política, se achavam acima das leis federais e de qualquer tipo de disciplina orçamentária. Isso mudou com a LRF.
Poderíamos enviar umas cópias dessa nossa grande lei para os amigos em Bruxelas.
Os europeus conseguirão pactuar algo do gênero? Tenho poucas dúvidas sobre terem eles qualquer outra melhor alternativa.
O que se fala entre os especialistas – sair do euro e recriar moedas próprias – é mera teorização de economistas, que não veem a geopolítica do euro tal como ela, de fato, é.
A Europa fragmentada é um animal incontrolável, espécie de monstro político prestes a repetir todas as loucuras e beligerâncias de seu passado sangrento e de crueldades intermináveis entre vizinhos.
Reis casavam seus filhos entre as várias casas reais na tentativa de realizar alianças rudimentares entre eles, hoje seladas de modo mais democrático no Tratado da Europa.
Desfazer-se desse “seguro” contra tolices e intolerâncias coletivas é algo que horroriza a qualquer político da atualidade na Europa, razão pela qual o novo presidente do BCE – Banco Central Europeu, Mario Draghi, um pragmático vindo da escola da Goldman Sachs, discursou anteontem, pedindo que os líderes europeus acelerem uma fórmula “compacta” de acordo, estabelecendo como será o controle fiscal dos países-membros no futuro próximo.
Se fizerem isso, os países em dificuldade ganharão maior suporte do BCE com linhas de socorro, também reforçadas pelo FMI, que será, com certeza, convocado como bedel do ajuste fiscal dos gastadores. Os próximos capítulos da novela europeia já passaram aqui no Brasil, em nosso reality show da megainflação com estagnação econômica.
A novidade nesta reprise de uma novela antiga será o comportamento das populações atingidas pela austeridade econômica, com rebaixamento salarial generalizado.A chiadeira poderá ser tão grande a ponto de derrubar governos, como já o fez na Grécia, Itália e Espanha. Mas não acabará com o euro.
Fonte: Brasil Econômico, 02/12/2011
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