Quem for ingênuo até pode acreditar no argumento segundo o qual dezembro é a melhor época do ano para a categoria falar grosso e arrancar à força o aumento salarial que a insensibilidade dos patrões lhes negou durante o ano.
Se fosse isso mesmo, vá lá. Mas a decisão de se declarar em greve a partir do dia 22 de dezembro, anunciada ontem pelos sindicatos que representam pilotos, comissários de bordo e pessoal de terra das companhias de aviação, tem nome.
Chantagem.
Uma chantagem tosca e abjeta. Trata-se de uma encenação que vem se repetindo nos últimos anos, sempre às vésperas de períodos de grande movimento nos aeroportos.
O discurso é tão manjado que já passou da hora de encontrar uma resposta definitiva para ele. E ela existe.
É hora de acabar com o dispositivo indecente que impede a contratação de estrangeiros para a aviação comercial. Essa prática é comum no mundo, mas proibida no Brasil.
Anos atrás, quando a Vasp e a Transbrasil faliram e o mercado doméstico não andava bem, companhias estrangeiras abriram as portas para pilotos brasileiros que ficaram sem emprego. Muitos encontraram na China e em outros países asiáticos a alternativa para prosseguir na profissão.
Hoje, no mercado brasileiro, não há pilotos suficientes para atender às necessidades das empresas. Os aeroportos estão lotados e, nos guichês das companhias, o número de interessados em comprar passagens supera em muito a quantidade de assentos disponíveis nos aviões.
Enquanto isso, em outras partes do mundo, a crise tem levado companhias de aviação a demitir profissionais. Por que não contratá-los? Por que não recrutar os comissários de bordo e o pessoal de apoio em terra entre os milhares de imigrantes que entram todos os meses no Brasil?
Os Estados Unidos fizeram isso. A Europa fez isso. Por que o Brasil não segue o mesmo caminho?
A população, que nos últimos anos viu o avião se firmar como transporte de primeira necessidade, certamente aprovaria qualquer medida que a livrasse dos chantagistas que agem às vésperas do Natal.
Nada contra profissionais bem remunerados – o que é exatamente o caso dos pilotos de avião. Há cinco anos, a categoria dos aeronautas tem conseguido reajustes salariais superiores à inflação, aspecto que apenas acentua a intenção dos sindicalistas da CUT que falam em nome desses profissionais.
O salário de um comandante de linha aérea doméstica equivale ao da alta gerência das empresas – enquanto os das linhas internacionais se rivalizam com os dos diretores.
Além de muito bem remunerados, eles têm uma escala de trabalho muito mais confortável do que a de qualquer piloto americano ou europeu. Não é raro que, em nome do vencimento da escala de trabalho, eles abandonem o avião na pista e deixem os passageiros passar a noite no aeroporto.
A aviação comercial brasileira não vive seus melhores momentos. Os aeroportos estão cheios, os aviões estão lotados e o atendimento é péssimo.
Num cenário como esse, o argumento de que a contratação de estrangeiros é um risco à segurança nacional (sempre defendido quando se fala em abrir o mercado para estrangeiros), aqui entre nós, não convence a mais ninguém. Contra a chantagem, mercado aberto. Ponto final.
Fonte: Brasil Econômico, 14/12/2011
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