Entro na sala de realfabetização na Escola Leila Barcelos, na Cidade de Deus, e pergunto às crianças, na faixa dos 12 anos, dos seus sonhos. “Quero ser médica”, diz uma menina. “Há um mês, não sabia ler nem escrever. Foi ela que me ensinou”, emenda, apontando para a professora, que começa a chorar.
Quem trabalha com educação já viveu momentos de emoção como este, mas o que se passa na Cidade de Deus supera outras possibilidades. A realfabetização dos 28.000 analfabetos funcionais está em curso na cidade, e muitos professores me fazem relatos de superação. Mas com a Cidade de Deus, a situação é diferente. Após tornar-se um sucesso mundial pelas razões erradas, tão bem retratadas no filme de Fernando Meirelles, há um clima diferente. Recém-pacificada, a região vive bonita volta à vida normal. Com desafios, certamente, desigualdades, falhas de infraestrutura, mas é um reinício.
Este reinício tem um impacto forte em Educação. As escolas foram se esvaziando nos anos de confronto, com os pais temerosos de enviar crianças às aulas e professores assustados. Como resultado, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que mede o desempenho das escolas, ficou muito ruim. Agora, a situação é outra. As crianças estão de volta, com um aumento médio de 30% na frequência escolar e cerca de 10 turmas de realfabetização.
Certamente persistem problemas. Há insuficiência de creches e professores, o que ora começa a ser resolvido. Mas, com o programa Escolas do Amanhã, destinado especificamente para estas áreas em que o conflito prejudicou a aprendizagem, a Cidade de Deus poderá honrar seu nome.
(O Dia – 20/07/2009)
Muito bonito o relato da Senhora Secretária Cláudia Costin. Sou professora de rede municipal e ainda me emociono com casos semelhantes, embora saiba que recebem, muitas vezes, uma pitada de drama. Somos latinos, não vivemos sem as lágrimas, sem a emoção mesmo sabendo que uma professora não ensina um estudante a ler em um mês se não tiver a seu favor o trabalho de diversos outros educadores que prepararam o terreno, que construíram junto com a criança ou o adolescente as habilidades que o tornaram competente na aquisição da leitura e da escrita.
É um processo longo que, em alguns casos, começa em casa quando a família cria um ambiente letrado e apresenta o significado e a importância de se comunicar através da linguagem escrita.
Ótimo que se tenha programas específicos para reverter o imenso quadro de defasagem no aprendizado de muitas crianças (evito o uso da palavra aluno por motivos óbvios). Pode ser sim um passo, por menor que seja, na luta contra o analfabetismo. Só não se pode ser piegas, romantizar uma parte do processo como se fosse o único, supervalorizar os atores de uma cena que foi produzida também por outros profissionais.
Estamos num momento onde a competência dos professores está sendo posta em xeque. Surgem como redentores prefeito, secretária e modelos prontos de atuação como se não existisse vida e trabalho antes disso; como se os educadores da rede estivessem precisando de um feitor que os pusessem nos trilhos; como se o fracasso no desempenho das escolas fosse culpa apenas dos profissionais que nelas trabalham.
Me emociono que mais uma criança tenha vencido a difícil batalha de se apoderar do conhecimento da leitura e escrita (e, acreditem, é mais difícil do que parece). Mas tomo muito cuidado com a leitura que se faz das entrelinhas.
estou com esse tipo de problema em minha escola e gostaria de ter acesso em saber se poderia aplicar esse projeto de relfabetização.
Aguardo urgente resposta