Todo mundo no Brasil (os funcionários públicos inclusive) tem acompanhado o que se passa na Europa, onde o excesso de privilégios concedidos ao longo das últimas décadas tem causado problemas que podem fazer ruir alguns dos pilares do Estado do Bem Estar Social construído desde o fim da Segunda Guerra Mundial
Servidores bem pagos, aposentadorias generosas, saúde integral, educação pública de qualidade e mais uma porção de benefícios custam dinheiro – e os recursos para cobrir a conta saem dos impostos elevados.
Não existe mágica: benefícios públicos são pagos com dinheiro público. Quando os benefícios tornam-se maiores do que a capacidade de arrecadação do Estado, só há duas saídas.
A primeira é elevar os impostos. A segunda é reduzir os gastos – o que significa, em última instância, o corte de benefícios com os quais a população conta desde que nasceu. Tudo isso parece óbvio e é óbvio mesmo.
No Brasil, como se sabe, a situação é diferente. A qualidade da educação deixa a desejar, a saúde (um direito assegurado pela Constituição) também deixa a desejar, o sistema de aposentadorias é falho para quem trabalha no setor privado, e os salários dos funcionários públicos… bem… Esses representam uma conta cada vez mais pesada, que pode colocar tudo a perder antes mesmo que o conjunto dos brasileiros consiga os benefícios de uma sociedade evoluída.
Para o ano que vem, várias categorias profissionais apadrinhadas por aliados políticos do governo estão reivindicando não apenas reajustes indecentes, mas cálculos de reajustes salariais que, no limite, jogarão sobre as costas do contribuinte uma carga excessiva, a ponto de obrigar o Estado a eliminar benefícios antes que eles sejam concedidos ao conjunto da população.
Os servidores do Judiciário querem somar privilégios aos que já têm (que não são poucos). Querem um reajuste vultoso, que pode custar quase R$ 8 bilhões por ano ao contribuinte.
A turma do Ministério Público Federal quer quase 60% de reajuste salarial – isso sem considerar qualquer critério de produtividade. Reajuste puro e simples.
A Receita Federal quer fazer alguns reajustes internos que, na prática, significam conceder a um grupo de servidores benefícios superiores aos que aceitaram ao prestar concurso para a instituição. É mais ou menos como mudar a regra do jogo com a partida em andamento só para levar vantagem.
Isso sem falar num expediente tão velho quanto cabotino, que vem sendo utilizado nos últimos anos por quem quer tirar mais ainda da população que paga impostos. Trata-se do seguinte: uma determinada categoria consegue uma gratificação que não constava do acordo celebrado na época do concurso que prestou.
É o suficiente para que todas as outras tentem conseguir na Justiça o mesmo benefício, sob o argumento surrado de que a “isonomia” justifica todo e qualquer absurdo.
O problema é que, no final das contas, toda e qualquer decisão em torno do tema será decidida na Justiça, por servidores públicos que também se concedem aumentos com base em critérios que mais parecem privilégios. Do jeito que está indo, isso não terminará bem.
Fonte: Brasil Econômico, 19/12/2011
Bem meu caro, o que não tem solução, solucionado está. Apenas uma virada de 180º na educação deste país abriria os olhos dos brasileiros. Como brasileiro devo dizer que não desisto nunca.