A anunciada reforma ministerial para janeiro de 2012 deveria levar em consideração mais a conjuntura econômica que a acomodação política e as práticas de apoio no Congresso. Isso porque o mapa da evolução econômica mundial, esboçado de forma mais veemente com o anúncio de que o PIB brasileiro estacionou em zero no terceiro trimestre, indica que a grande maioria dos países atravessa uma fase muito ruim. O mapa indica que a maioria das nações está registrando desempenho muito fraco.
Em economia, quando um país cresce menos que a taxa demográfica, ou seja, que a população, é um mau sinal. Indica que a evolução não consegue nem sequer atender as pessoas que chegam todos os anos ao mercado de trabalho. Observem que o Brasil está crescendo 2,1% até aqui e a previsão deste ano é de 3% e os países da Zona do Euro crescem apenas 1,4%. Vejam que Portugal e Grécia já estão em depressão, assim como Japão. A recessão, caracterizada por um período seguido de quedas, parece ser o caminho mais provável de muitas nações mundiais.
A crise passada, marcada pelo colapso do sistema bancário americano, encontrou no mundo uma situação menos caótica. Além disso, o Brasil abriu mão de impostos (usando a chamada política de renúncia fiscal) e ampliou as linhas de crédito. Além de isentar segmentos com grande poder gerador de empregos e negócios, que rapidamente podem alavancar a economia, como carros, eletrodomésticos e construção civil, houve redução dos depósitos compulsórios que os bancos fazem sobre os depósitos à vista em suas carteiras e uma segurada na taxa dos juros. Com isso, foi ampliada a liquidez, ou seja, o governo fez crescer o volume de dinheiro em circulação e com isso foram disponibilizadas mais linhas de crédito. Estimuladas, as pessoas compraram mais, o mercado doméstico supriu a queda nas compras externas e o Brasil passou pela crise, como disse Lula, apenas com uma marolinha.
Desta vez a situação é diferente. Os Estados Unidos ainda não se recuperaram da crise passada e toda a Europa parece ruir. As sujeiras varridas para baixo do tapete nos últimos 10/20 anos surgiram de repente. Está evidente que a Europa fez pouco e fez tarde. A crise não poupa regimes, mostra gestões ruins de direita e de esquerda, atingiu primeiro a Turquia e foi levando como uma contaminação todas as economias. Com isso, vários governos caíram e o remédio para ajustar a situação terá de ser muito amargo. Uma a uma as nações vão sendo arrastadas nesse processo: Portugal, Itália, Espanha, França, Alemanha. A cada reclassificação de risco das agências de rating surge mais uma na berlinda da bancarrota mundial. Além disso, há o Japão, que também está longe de recuperar-se após as catástrofes recentes (terremoto e vazamento nuclear).
Esse cenário, que não poupa nem a aparentemente sólida Alemanha, encontra um Brasil com uma margem menor de manobra. A população está com elevado nível de endividamento e o governo não tem mais tanta margem para reduzir impostos e alavancar setores, tampouco promover maior volume de recursos e ampliar a oferta de crédito. Isso pode levar a uma onda de inadimplência sem precedentes e o governo já não tem certeza se vale a pena arriscar. A margem é bem mais estreita que a da crise passada.
Por isso alguns setores da nossa economia já começam a sentir os efeitos da crise sem muito espaço para compensar a queda de demanda externa com o consumo doméstico. Assim é que algumas indústrias já começam a sentir queda na produção, já iniciam demissões e férias coletivas, formulam planos de demissão voluntária.
Pior que tudo isso é o efeito que manchetes indicando que a economia parou. Quem estava pensando em investir, ampliar atividades, com raras exceções mantém os planos. Esse tipo de notícia cria uma onda capaz de pouco a pouco de fato aprofundar a crise. Outra prova de que a economia está contida é a manutenção da taxa de inflação. A demanda não permite reajustes de preços e observem que ainda não podemos admitir que estamos, de fato, no meio de uma crise.
Essa situação requer uma solução mundial. Os países do bloco europeu precisam encontrar uma solução e rápido, do contrário há o potencial risco de pré-insolvência de muitas nações. A falência de uma dessas economias, neste momento, pode representar o caos mundial. Acontece que o FMI tem um tamanho muito inferior ao necessário. O mesmo FMI que socorreu Rússia e Brasil era um FMI robusto para a situação. Diante do volume das necessidades atuais, o Fundo se apresenta raquítico, não consegue estancar a sangria e não tem volume de recursos para fazer frente à crise atual. Por isso a necessidade de um esforço concentrado de aporte de capitais por parte de todos os países-membro, incluindo o Brasil.
Para piorar um pouco, todo primeiro trimestre de todo ano é fraco. As vendas caem, o comércio repõe seus estoques numa velocidade menor e as indústrias reduzem o movimento. É quando as pessoas pagam seus impostos, tentam colocar as dívidas de fim de ano em dia. No quarto período do ano, este que estamos vivendo, deve garantir o PIB de 3% em relação ao ano passado. Afinal de contas, espera-se um Natal de 5% a 14% melhor. Mas e depois?
Então a crise deve durar e com isso as vendas externas devem cair ainda mais, o fluxo de turismo também deve baixar significativamente e de forma inevitável atingir o Brasil, ainda que de forma menos acentuada em relação às outras nações, por conta das reservas de dólar, da estabilidade fiscal e monetária, da estabilidade política, da manutenção do Estado de Direito.
Convém guardar toda gordura para o que vem por aí. Não se sabe o que pode ser dos primeiros seis meses do ano que vem. Os mercados externos estão tão apreensivos com a falta de opções de saída quanto descapitalizados e sabem que seja qual for o receituário, terão de apertar ainda mais os cintos, as aposentadorias serão afetadas e socialmente as condições tendem a piorar, por desemprego maior, por exemplo. Sinais não faltam de que poupar cada centavo passa a ser fundamental: Pela primeira vez na história, os americanos fazem vistas grossas para visto de turista brasileiro, de olho nos nossos dólares. A Itália, através do novo governo e de suas medidas amargas, já fala em sacrifício por futuras quatro gerações.
O Brasil terá de conviver, até que haja um ajuste que garanta minimante as vendas externas e por conseqüência a produção interna, de uma maneira bastante ajustada, da mão para a boca. Dilma terá de se aparelhar melhor em termos de gestão, buscar por um novo perfil ministerial, buscar mais o lado técnico se quiser atrapalhar-se menos em relação a outros países. A nosso favor, eventos como a Copa e Olimpíadas, que nos tornam alvos mundiais em termos de investimento e visibilidade. Talvez esteja nisso, e na ainda aparente imagem de estabilidade de nossa economia, a chave para ultrapassar os momentos mais críticos. É nisso que apostam todas as fichas nossas autoridades econômicas.
No Comment! Be the first one.