O líder do PT no Senado, o pernambucano Humberto Costa, teria feito mais por seu conterrâneo Fernando Bezerra caso não dissesse – como disse ontem, em Brasília – que o ministro está sendo vítima de ataques apenas porque é nordestino.
Se não tinha nada de bom para dizer em defesa de Bezerra, teria sido melhor permanecer de boca fechada. Se existe algo de que o Nordeste em geral e Pernambuco em particular não têm o direito de se queixar nos últimos anos é de preconceito.
Desde o governo passado, o estado vem sendo beneficiado com uma enxurrada de investimentos que vão de refinaria de petróleo a montadoras de automóveis; de estradas a portos – isso sem falar, naturalmente, das obras bancadas com o dinheiro do Ministério da Integração Nacional.
Fernando Bezerra – e Humberto Costa sabe disso – não está sob ataque por ser nordestino. Na verdade, ele está sob ataque porque até pode ser um bom político à moda antiga – conforme aquele princípio superado que diz “aos amigos tudo; aos inimigos, a lei”. Mas, como gestor público, ele é, no mínimo, despreparado.
A bem da verdade, se existem estados vítimas de preconceito na política brasileira dos últimos tempos, eles são os de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
Além de arrecadar os tributos que serão repassados às outras unidades da federação (o que, de todos, é o menor problema), eles sofrem com um critério de proporcionalidade eleitoral covarde – que faz com que os votos de seus cidadãos valham menos do que o dos brasileiros que vivem em qualquer outra parte do país.
Qualquer pessoa que observar com seriedade a relação entre as bancadas federais e a população dos estados que as elegem notará que o voto de um pernambucano em Pernambuco vale muito mais do que o voto desse mesmo eleitor caso ele se transfira para São Paulo – que tem mais de 21% da população e apenas 13,5% dos deputados federais.
Pernambuco, por sua vez, tem 4,6% da população e quase 5% da bancada federal. Essa situação injusta tem gerado uma série de distorções que, entra legislatura, sai legislatura, têm tirado dos estados do Sudeste qualquer possibilidade de competição contra as outras regiões do país.
Apostar na distribuição de riqueza e promover a descentralização do desenvolvimento é uma virtude que os governos brasileiros vêm praticando há muitas décadas.
Realmente não era possível, como acontecia há mais de 40 anos, que São Paulo fosse o único estado realmente industrializado do país – e que todos os demais dependessem dele para tudo. Desde então, o jogo mudou e São Paulo perdeu participação relativa em todos os setores da economia.
Ele não parou de crescer; os outros é que andaram mais depressa. Mesmo assim, São Paulo continua sendo o maior centro de geração de riquezas e de arrecadação do país.
Humberto Costa, ao fazer sua defesa infeliz de Fernando Bezerra, deveria pensar que é líder de um partido que ainda precisa se afirmar nesses estados que têm sido vítimas de preconceito.
E que a própria presidente da República, Dilma Rousseff, que é de seu partido, tem procurado se aproximar de São Paulo porque sabe que esse caminho é mais eficaz do que o ranço dos que fazem política à moda antiga.
Fonte: Brasil Econômico, 13/01/2012
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