Um trecho da entrevista de Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), nesta edição, joga um facho de luz esclarecedor sobre um dos problemas que tiram a eficiência dos portos brasileiros e, por consequência, aumentam o chamado “Custo Brasil”.
E, mais do que isso, ajuda a explicar as frotas cada vez mais numerosas de navios fundeados na entrada da Baia de Guanabara, no Porto de Santos, ou em qualquer outro lugar onde haja um porto importante.
A causa não está, conforme já se acreditou, na ineficiência dos terminais ou na incapacidade dos operadores de carregar e descarregar uma embarcação em tempo igual ao que se vê em Roterdã, em Hamburgo ou em Liverpool. Pelo contrário.
Em alguns terminais, como o da empresa Santos Brasil, em Santos, os índices de eficiência na operação – se analisado o trabalho feito navio por navio – são melhores do que os de qualquer porto do ocidente. No entanto, se for considerada a eficiência no terminal nas 24 horas do dia, o índice cai de forma vertiginosa.
Por que? A resposta está na entrevista de Gouvêa Vieira ao “Brasil Econômico”. Ao contrário do que ocorre nos portos mais produtivos, que funcionam dia e noite, inclusive sábados, domingos e feriados, a burocracia no Brasil, além de enorme, só funciona no chamado horário comercial.
Polícia Federal, Receita Federal, Vigilância Sanitária e outros órgãos que precisam autorizar a entrada ou a saída de mercadorias no Brasil não dão expediente noturno. A consequência disso é que a capacidade de desembaraço das cargas se reduz a menos da metade do que poderia ser. É ou não é o fim da picada?
Pode se argumentar que, com maior capacidade de vazão, todo o sistema de transporte além porto, feito em sua maioria por caminhões, entraria em colapso, tornando ainda mais caótico o trânsito nas imediações dos terminais.
Não é bem assim: com melhor distribuição dos trabalhos ao longo de 24 horas, distribui-se o tráfego ao longo do dia.
Argumenta-se, também, que as exigências de fiscalização são rigorosas para evitar as fraudes. Pode ser. Existem, no entanto, portos eficientes que, ainda assim, não são palcos de tantas falhas quanto os brasileiros.
O Brasil é um país cheio de manias. Em qualquer lugar do mundo, considera-se que a maioria dos importadores e exportadores é honesta – e os que demonstram conduta inadequada são punidos de forma severa.
No Brasil, todos são considerados contrabandistas até prova em contrário – e, em nome de dois ou três que agem contra a lei, todos pagam o pato. A solução, é claro, não é afrouxar o controle sobre contrabandistas e traficantes.
Mas tornar esse trabalho mais eficiente e mais ágil. Com toda certeza, é possível, sem acrescentar um único profissional à folha de pagamentos dos órgãos envolvidos, por os portos para trabalhar 24 horas por dia. É só querer
Fonte: Brasil Econômico
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